O futuro de milhões de mulheres pode ter sido escrito a partir desse marco.
A notícia do primeiro transplante de útero do mundo que não precisou de uma doadora viva para ser um sucesso e permitir o nascimento de um bebê saudável aconteceu no Brasil, no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Até então, os primeiros transplantes uterinos que aconteceram em 2013 na Suécia e depois nos Estados Unidos, precisaram expor as doadoras ao risco de um transplante para permitir que a receptora pudesse conceber.
Segundo publicado na revista científica The Lancet, o caso brasileiro é o primeiro relato de um parto após transplante de útero de uma doadora falecida. O sucesso também rompeu a barreira da viabilidade do útero explantado após cerca de 8 horas isquemia, mais que o dobro do anteriormente descrito com doadoras vivas.
Além disso, foi identificado que reduzir o tempo pós-operatório e a transferência de embriões por 5 meses versus o relatado em casos anteriores com doadoras vivas não produziu rejeição, reduzindo custos e risco da paciente.
Vale destacar os excelentes profissionais envolvidos nesse sucesso:
Dani Ejzenberg*, Wellington Andraus*, Luana Regina Baratelli Carelli Mendes, Liliana Ducatti, Alice Song, Ryan Tanigawa, Vinicius Rocha-Santos, Rubens Macedo Arantes, José Maria Soares Jr, Paulo Cesar Serafini, Luciana Bertocco de Paiva Haddad, Rossana Pulcinelli Francisco, Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, Edmund Chada Baracat
Quando o transplante de útero entrará na rotina?
Assim como na maioria dos países, no Brasil existe uma alta demanda para transplante de órgãos e uma disponibilidade baixa de doações. A proporção é de 16 doadoras por cada milhão de pessoas, o que significa aproximadamente de 3500 doações por ano. Portanto, mesmo após a consolidação da técnica, é provável que assim como no caso de outros órgãos, a disponibilidade não atenda totalmente a necessidade populacional.
Uma de cada 500 mulheres é acometida por infertilidade uterina absoluta, o que pode ocorrer pela ausência do órgão, malformação, necessidade de sua retirada ou ainda, por consequência de infeções ou cirurgia.
Para pacientes portadoras da síndrome de Rokitansky (MRKH) serem mães, como foi o caso da receptora brasileira, mas também para mulheres que por outras questões não podem gestar em seu próprio útero, o transplante uterino é uma das possibilidades, junto com o útero de substituição e a adoção.
Amadurecimento da técnica
Assim como ocorreu há 40 anos, quando foi anunciado o sucesso da primeira Fertilização in Vitro (FIV), é preciso tempo de desenvolvimento e prática para aprimorar e tornar mais acessível o transplante de útero, mas enquanto isso não acontece, podemos nos considerar privilegiados de marcar o Brasil na história desta técnica.
Marcia Riboldi, PhD – Diretora da Igenomix Brasil