A ASRM2018, evento da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, é um dos marcos mundiais da reprodução humana e mais uma vez trouxe temas de grande importância, que você vai acompanhar com a Igenomix
Esse ano, o slogan do evento é Focus in the Next Generation o que já nos passa uma ideia de como será o futuro na FIV.
Após a cerimonia de abertura, não tivemos nada mais, nada menos, do que a primeira plenária com a Prof. Dra Magdalena Zernicka-Goetz, um mito nos estudos sobre o desenvolvimento embrionário. Inicialmente em camundongos e já nos mostrou resultados comparativos em embriões humanos.
Entendendo o desenvolvimento embrionário inicial
A grande questão é se todas as células são idênticas ou não, e qual é o mecanismo que leva à diferenciação das células. Por exemplo, em um embrião de 5 células, como saber qual célula será somática ou não?
Segundo a apresentação da Prof. Dra Zernicka-Goetz, a heterogenecidade acaba causando as modificações epigenéticas e também os sinais transcriptomicos. Inúmeros genes são expressados em diferentes embriões e por isso, é extremamente difícil decidir quais genes estudar.
Apesar de entender-se que enquanto o gene Sox21 previne a diferenciação, os sinais SOX2 e OCT4 são os principais genes no processo da pluripotencia e juntos podem ou não acabar realizando um eficiente trabalho no desenvolvimento.
Além disso, a polarização é o próximo passo nesse processo, mas como é controlado? Ainda temos mais perguntas sem respostas sobre o desenvolvimento inicial do embrião.
A polarização, em outros animais ocorre quando o embrião tem apenas 8 células (terceiro dia de desenvolvimento embrionário) antes de formar morula. E o que controla isso? Um processo de uma série de proteínas como Actina, por exemplo.
Em humanos, o processo de polarização começa mais tarde, segundo observado por incubadora time-lapse, em pesquisa realizada em conjunto cm o grupo IVIRMA, quando o embrião está entre 8-13-16-18 células.
Além do mistério do desenvolvimento embrionário, ainda temos o desafio de entender a implantação, um enigma ainda mais difícil e uma autêntica caixa preta que os cientistas ainda estão longe de compreender, ou um iceberg, como ilustrou Dra Magdalena.
Em humanos, a partir do dia 7 começa a formação do epiblasto e a cavidade amniótica para a implantação.
O conhecimento acumulado poderá levar um dia a alcançar a embriogênese, mas por enquanto cabe entender o processo, que na maioria dos experimentos estão sendo realizados em camundongos. Porém, a colaboração com clínicas de Fertilização in Vitro está permitindo expandir a pesquisa a humanos.
Reconstruir embriões a partir de células tronco pluripotentes pode ser a solução que muitas famílias estão aguardando por não possuir ou não poder contar com seus óvulos ou espermatozoides para ter filhos.
Edição genética, tão próximo e ainda assim tão distante
A segunda plenária, apresentada por Dr Eli Y. Adashi, complementa à perfeição o primeiro tema sobre o desenvolvimento embrionário, pois abordava a edição genética e como essa possibilidade poderia transformar e reparar eventuais alterações genéticas nocivas no embrião.
A história da edição genética se popularizou com o Crisp-casp9, mas começou muito antes, nos anos 80. Em 2012, começou com a edição do genoma de bactérias, 2013 edição de bactérias eucariotas, onde um dos pesquisadores foi Prof. George Church, hoje fundador do laboratório de genética Veritas que estuda o Genoma humano, até que em 2015 ganhou grande relevância pelo barateamento e eficiência da técnica.
No entanto, ainda há muita debilidade na estabilidade dos resultados da edição genética, que devem ser aperfeiçoados para uma utilização futura, já que a uniformidade das técnicas existentes não são específicas.
Por enquanto, a alternativa até a In Vitro Gametogênese chegar, é seguir o caminho mais factível com os teste genético pré-implantacional para doenças monogênicas PGD/PGT-A.
Entre as aulas mais esperadas do dia, e concorrendo ao The Prize Paper, a pesquisa da Igenomix em conjunto com Stanford, sobre sequenciamento do RNA celular do endométrio humano ao longo do ciclo menstrual aportou informação sobre transformação transcriptomica do tecido endometrial.
Como resultado do estudo, 6 tipos de células endometriais e 4 fases importantes da transformação endometrial foram identificadas.
Outras conclusões importantes foram:
Epidemia da obesidade
Outro tema que também será abordado amanhã por especialistas da Igenomix, a obesidade feminina foi discutida. Dr Randi Goldman apresentou o impacto da idade e IMC (índice de massa corporal) na taxa cumulativa de nascimento em tratamentos de Fertilização in Vitro – FIV.
O aumento da obesidade é um fato crescente entre as mulheres em idade reprodutiva. Como consequência, irregularidades nos ciclos e também ciclos anovulatórios provocam o atraso da gravidez e infertilidade. Durante os tratamentos de reprodução assistida, a obesidade pode gerar:
- Necessidade de doses mais elevadas de medicação para estimulação ovariana
- Aumento de taxa de cancelamento de ciclos por ausência de óvulos
- Redução da taxa de implantação, gravidez e nascimento de um bebê saudável.
O objetivo do estudo realizado em pacientes dos Estados Unidos e Porto Rico foi identificar a combinação entre IMC e idade materna com as chances de gravidez.
Por um lado, a relação entre fertilidade e idade materna é bem conhecida:
Por outro, o impacto do IMC também segue a mesma tendência de redução na medida em que o índice de massa corporal é maior:
Cruzando a informação, a conclusão é que pacientes mais jovens podem aumentar as chances cumulativas de gravidez caso tenham a possibilidade de reduzir o IMC em um período razoável de tempo. Já, em pacientes com idade mais elevada, por uma disponibilidade menor de tempo e os efeitos de envelhecimento ovariano, os efeitos positivos menores.
Poliploide ou Mosaico?
Dra Dana Neitzel, em sua aula sobre um novo teste genético pré-implantacional para aneuploidias PGS/PGT-A identificou que 44% de casos de poliploidia poderia estar sendo identificados como mosaicos, o que caso transferido, pode gerar abortamento ou resultar em gravidez molar.
EXOMA
O congresso da ASRM2018, seguindo a proposta de foco nas novas gerações, teve espaço para falar do sequenciamento completo do Exoma a partir da aplicação da tecnologia de NGS, apresentado por Dr Cayton Vaught.
Os testes genéticos podem ser realizados em diferentes estágios do desenvolvimento humano, desde o período pré-implantacional, até os painéis de portadores.
No caso do pré-natal, os testes genéticos podem chegar a diagnosticar cerca de 40% dos casos, porém representam barreiras e exigem aconselhamento genético e uma difícil tomada de decisões com um grande impacto emocional. Razão pela qual o Exoma familiar representa uma vantagem e pode ser uma resposta para ajudar no planejamento familiar antes da gravidez avaliando e prevenindo riscos.
Mosaicismo embrionário
Para fechar a cobertura desse intenso primeiro dia, Prof Anver kuliev ministrou a conferencia de Mosaicismo onde Joris Vermeesch e David Cram debateram de maneira eficiente e prática o tema. Foi apresentado um estudo com mais de 100 embriões mosaicos, com uma análise que englobou dados de pré-natal e pós natal.
Sobre o embrião:
Apesar da necessidade de personalizar e estudar cada caso de forma personalizada, é possível uma simplificação inicial sobre a transferência de embriões mosaico:
Muito mais assuntos interessantes foram abordados e amanhã tem mais novidades. Acompanhe com a gente!
Marcia Riboldi, PhD – Diretora da Igenomix Brasil