O interior do útero possui uma população grande de bactérias que influenciam na fertilidade.
Algumas bactérias são bem-vindas e outras são prejudiciais, como no caso da Gardnerella, uma bactéria que quando presente no endométrio, a parede interna do útero da mulher, pode causar abortos ou impedir a implantação do embrião.
Entrevistei a Dra Diana Valbuena, diretora de pesquisas médicas da Igenomix para falar sobre como podemos identificar e tratar essa bactéria que sem causar sintomas, provoca o desequilíbrio da flora microbiana e infecções bacterianas.
Como a Gardnerella surge?
A Gardnerella é uma bactéria que está presente no corpo, mas que em desequilíbrio pode gerar uma condição patológica. As infecções vaginais causadas pela Gardnerella são bastante conhecidas, porém as infecções do microbioma endometrial são achados recentes da ciência.
Como detectar essa bactéria?
A Gardnerella não cresce em cultivo. Isso significa que ela não pode ser detectada em qualquer exame. Esse foi um dos motivos para desenvolver uma forma de identificar por sequenciamento de nova geração (NGS) a presença dessa e outras bactérias patogênicas que causam infecções, geralmente sem causar sintomas.
Os métodos para detectar infecções endometriais eram pouco eficientes porque essas patologias eram sobrediagnosticadas, no caso da histeroscopia, ou sub-diagnosticas, no caso do cultivo microbiano, que é onde a Gardnerella não pode ser detectada.
Atualmente a Gardnerella pode ser identificada a partir da Análise Metagenômica do Microbioma Endometrial, um estudo conhecido como teste EMMA, que além do equilíbrio da flora bacteriana, também analisa bactérias patogênicas causadoras da endometrite crônica.
O teste EMMA é bastante novo e, apesar de que ainda estamos aprendendo com ele, já temos certeza de sua eficiência graças às pesquisas prévias aprovadas e publicadas, além da aplicação em mais de 2.000 pacientes, que nos permitiu afinar ainda mais o conhecimento e realizar um segundo estudo que será publicado em breve.
Como é o tratamento de uma infecção causada por Gardnerella?
O tratamento é através do uso de antibiótico específico para esta bactéria e posterior uso de probióticos para ajudar a flora a se recompor. Após o tratamento é importante repetir o teste pra ter certeza que a bactéria foi eliminada, porque apesar de que em cerca de 88% das pacientes o tratamento é efetivo, encontramos outros 12% que não foram curadas.
Por que o tratamento pode não combater a bactéria?
Pode ser uma resistência que a bactéria desenvolveu ao antibiótico utilizado ou até mesmo que a bactéria criou uma barreira física que impede a ação do antibiótico.
Estamos pesquisando protocolos mais efetivos para superar estas barreiras, que normalmente passa pela utilização de outra opção de antibiótico eficaz para a bactéria específica.
Como são feitas estas pesquisas?
As pesquisas passam por várias fases. Inicialmente e até ter segurança, tudo é feito em laboratório, depois a pesquisa passa por um comitê de ética, que discute e aprova sua relevância e compromisso ético.
Com esta primeira base concluída, convidamos os médicos e, através deles também as pacientes. As pacientes que aceitam participar da pesquisa são informadas e orientadas com relação a tudo relativo à pesquisa, sendo que o primeiro estudo é realizado com uma amostra menor de pacientes.
Com o sucesso da aplicação em pacientes e publicação dos resultados em revistas científicas relevantes, expandimos a aplicação a mais centros médicos, procurando a diversidade de países, idades de pacientes e etnia, com o objetivo de comprovar sua reprodutibilidade e reduzir o que chamamos de bias, que são eventuais particularidades que poderiam estar presentes no cenário inicial onde não existia uma ampla diversidade.
O Brasil é o segundo país que mais realiza o teste EMMA.
Ouça um trecho da entrevista com a Dra Diana Valbuena durante sua visita ao Brasil para o Simpósio Nilo Frantz e International Fertility Talks.
Marcia Riboldi, PhD
Geneticista Igenomix Brasil