Reprodução humana com responsabilidade e prevenção de doenças genéticas são destaques do primeiro dia da PGDIS 2019
O primeiro dia da 18º edição da Conferência Internacional sobre Pré-implantação genética, PGDIS2019, começou com o tema mais falado nos últimos meses e discutido em uma série de publicações científicas: Reprodução com responsabilidade
A medicina preventiva ganha força dentro da saúde. Um fato que aumenta a relevância de considerar os fatores genéticos de hereditariedade que representam um risco para a qualidade de vida, além dos fatores ambientais que podem exercer uma força epigenética negativa. Dentro deste cenário, a discussão sobre os limites da responsabilidade de informar sobre as possibilidades atuais se misturam com os limites éticos da prevenção de doenças.
Como cientistas, além de inspirar o debate sobre os avanços, temos a obrigação de investigar sobre a cura e prevenção de doenças, o que tem passado pelo sequenciamento genético dos progenitores em risco de transmitir mutações genéticas aos seus descendentes. Muitas aulas do primeiro dia da Conferência abordaram as siglas CS (carrier screening), em português “painel de portadores”. Inclusive uma aula do especialista da Igenomix, Dr Pere Mir Pardo.
Genoma Vs Exoma
Comparações sobre as diferenças entre os testes genéticos Genoma verso Exoma demonstraram que estamos no caminho para o uso do genoma. Uma opção que, diferente do Exoma, realiza o sequenciamento completo do código genético. No entanto, ainda falta muita investigação nessa área com relação às questões clínicas.
Uma das grandes vantagens do Genoma, é que sua cobertura é mais uniforme quando comparada à cobertura do Exoma.
Graças aos estudos do Genoma e Exoma são descobertos cerca de 300 genes novos por ano; alguns já relacionados a alguma síndrome ou mutação genética, porém as funções de muitos genes ainda permanecem desconhecidas.
Idade paterna e incidência de doenças genéticas estão relacionadas
Outro ponto levantado no primeiro dia da PGDIS2019, foi a questão do risco paterno. Após os 36 anos, a probabilidade de gerar um bebê acometido por doenças genéticas é o dobro de quando o homem possuía 20 anos, sendo que o risco de mutações dobra a cada 16 anos, acumulando anualmente um risco de 3 novas mutações De Novo, ou seja, que se manifestariam por primeira vez na família.
Casamento entre primos, um fator de risco genético a considerar
Para fechar a sessão sobre avaliação de risco de doenças genéticas, a relevância do uso do CGT, o painel de portadores (carrier screening) também conhecido como Teste de Compatibilidade Genética foi abordado como muito importante, principalmente para casais consanguíneos.
Como exemplo foi citado o Paquistão, um dos países com uma alta prevalência de casamento entre primos. O painel de portadores demonstrou que a probabilidade de os casais consanguíneos terem descendentes que desenvolvam novas mutações e o risco de terem filhos afetados com o acúmulo de repetidas relações consanguíneas aumenta gradativamente a cada nova união.
Quando uma doença rara pode ser considerada severa?
Parece uma discussão de terminologia, mas o que pode ser considerado uma doença severa é algo para pensar. Seriam aquelas que se desenvolvem muito rápido e a expectativa de vida não supera os 30 anos? Ou seriam aquelas que impedem as crianças de superarem os 10 anos de idade?
Discutir o peso de uma doença na vida de uma pessoa não parece ser algo que pode ser generalizado e por isso, todas as famílias deveriam ser informadas e estarem conscientes de seus riscos para tomar uma decisão consciente e planejada.
Muitas doenças graves podem ser evitadas. Este é um fato que nem todos sabem e que, portanto, colocam as pessoas em desvantagem sobre uma decisão que é de cada família.
Diagnóstico genético do embrião
Comentando sobre a evolução da tecnologia de estudo pré-implantacional, os doutores Dagan Wells e D Leigh fizeram uma retrospectiva da história e diferentes técnicas do PGT-A e PGT-M, chegando ao NGS (sequenciamento de nova geração) e as mais novas tentativas de incorporar essa tecnologia ao PGT-M, que atualmente ainda é realizado com PCR.
Um dos grandes aliados para a possibilidade de rastrear e prevenir doenças genéticas é a tecnologia de vitrificação de embriões, que possibilitou manter os mesmos saudáveis durante o tempo requerido pelas técnicas de diagnóstico embrionário e logística de transporte.
Falando de PGT-M, foi destacado que a análise do embrião para doenças genéticas já foi realizada para rastrear mais de 500 diferentes condições. Uma informação aportada em uma bela exposição sobre casos De Novo que foram possíveis de analisar pelo grupo da Prof. Rechtinski, da RGI.
Os casos De Novo, chamados dessa maneira porque aparecem por primeira vez em uma família. São difíceis de identificar justamente por não contarem com uma herança genética que poderia ser rastreada para a produção de um painel, no entanto, em certos casos é possível.
Origem gonadal de doenças genéticas
Ainda abordando o PGT-M, foi lembrado que muitos dos casos podem ser causados por origem gonadal, sendo uma estratégia de análise para estes casos o estudo do sêmen, considerando que a grande maioria dos casos De Novo (mais de 80%) são descobertos no esperma.
Mecanismo de alterações cromossômicas no embrião relacionadas com idade materna
As consequências do avanço da idade materna são bastante conhecidas com relação ao aumento de risco de abortos, falhas de implantação e acometimento do bebê com alguma síndrome genética. Todos provocados por alterações cromossômicas (aneuploidias). Dra Mary Hebert apresentou algumas informações em sua aula:
Como também conhecido, os casos de infertilidade ligados à idade materna estão relacionados principalmente com a qualidade dos óvulos, representando 95% das alterações cromossômicas.
As aneuploidias são provocadas normalmente por erros no processo de meiose e o seu risco aumenta durante a recombinação das meioses.
Origem do Mosaicismo e variações segmentadas
O conhecimento e coesão sobre a incidência do mosaicismo está a cada dia mais consolidada. Dra Eva Hoffman trouxe em sua apresentação dados importantes sobre este fato e também trouxe o tema das alterações parciais, que atualmente são investigadas a partir do teste PGT-SR:
As aneuploidias segmentais (parciais) afetam apenas uma parte do cromossomo, não estão associadas à idade materna e sua detecção através de testes genéticos depende de vários fatores:
- Biópsia embrionária
- Tecnologia de sequenciamento do DNA
- Validação de protocolos
- Algoritmos
- Resolução
Estudo genético do Corpúsculo Polar
Dr Alan Handyside apresentou as vantagens e desvantagens dessa técnica menos invasiva que a tradicional biópsia embrionária no rastreamento de alterações cromossômicas. Por enquanto, as desvantagens ainda parecem pesar mais, já que a coincidência de resultados ainda não é ótima. Veja no slide:
Conhecimento e aconselhamento genético
Para fechar o dia não apenas com informações, mas lembrando que abrimos esta cobertura com o tema “Reprodução com reponsabilidade”, é preciso assumir que fora de eventos especializados, o conhecimento geral sobre as possibilidades de prevenção de doenças genéticas por parte dos pacientes e inclusive o acesso ao aconselhamento genético é limitado. É preciso socializar este conhecimento.
Continue acompanhando a cobertura da PGDIS2019 com a Igenomix!
Marcia Riboldi, PhD – Diretora da Igenomix Brasil