Apesar do teste genético de aneuploidias embrionárias (PGT-A convencional) representar um benefício inquestionável para o aumento das chances de gravidez e nascimento de um bebê saudável através da Fertilização in Vitro (FIV), ainda existem algumas limitações que sua tecnologia de análise não é capaz de determinar, entre elas, o nível de ploidia embrionária, ou seja, a quantidade de conjuntos completos de cromossomos de um embrião. Esta limitação gera duas principais consequências:
- Embriões classificados como euploides no PGT-A convencional podem ter um conjunto cromossômico a mais ou a menos. Estima-se que isso ocorre em 2-3% dos casos. Como consequência, esses embriões não implantam ou geram uma perda gestacional.
- Diante da observação de um número anormal de pró-núcleos após a fertilização do óvulo, o pré-embrião é descartado devido ao alto risco de não gerar um embrião compatível com a vida. No entanto, 10% desses casos poderiam gerar o nascimento de um bebê saudável.
As triploidias, que são as alterações de ploidia mais frequentes, são encontradas em 2% das gestações naturais e 15% das perdas gestacionais onde o material de aborto é analisado geneticamente.
Todo esforço para melhorar as chances de nascimento de uma Fertilização in Vitro com segurança vale a pena
Diante das evidências sobre o valor clínico de ter conhecimento sobre as ploidias, a Igenomix é pioneira em integrar essa análise de forma complementar a todos os casos de PGT-A processados em nosso laboratório de genética do Brasil.
A transferência de embriões triploides pode resultar em aborto espontâneo e gravidez molar. Sendo raro os casos de nascimento, não há relatos de sobrevivência após o período neonatal. Por isso, o desenvolvimento de uma estratégia de testagem que integre a avaliação do PGT-A pode resolver essa limitação com informações valiosas sobre a constituição genética dos embriões, que não são avaliadas no PGT-A, elevando o nível de utilidade clínica da análise genética embrionária.
Outra vantagem de obter a informação de ploidias é evitar o descarte de embriões com fertilização anormal, pois diante de uma avaliação morfológica do número de pró-núcleos (PN) alterada, o descarte de embriões é recomendado por segurança e devido à, até então, ausência de alternativas para comprovar seu correto desenvolvimento. No entanto, há fortes evidências de que cerca de metade dos zigotos 3PN fertilizados por ICSI (injeção intracitoplasmática) durante a FIV podem resultar em verdadeiros diploides (Grau et al., 2011, 2015), ou seja, embriões cromossomicamente normais aptos para a transferência. A prevalência de 3PN varia entre 6,6% e 8,1% dos embriões fertilizados (Balakier, 1993; Porter et al., 2003).
Como ocorre o erro de ploidia?
O ganho ou perda de um conjunto cromossômico completo caracteriza a alteração de ploidia. Por exemplo, quando há um ganho, no lugar de duas cópias de cada cromossomo, os embriões apresentam 3 cópias e, portanto, são triploides.
Múltiplos mecanismos foram descobertos como possíveis causas de ploidia anormal. Durante a fertilização regular, na meiose II o espermatozoide ativa o oócito para completar a ovogênese. Este zigoto teria então um total de 46 cromossomos. No entanto, descobriu-se que o óvulo pode se ativar acidentalmente. Esse fenômeno é conhecido como partenogênese, em que o óvulo é ativado independentemente sem adicionar DNA do esperma. Nesse caso, o embrião resultante teria apenas os 23 cromossomos fornecidos pelo óvulo, originando um embrião haploide.
Além disso, vários mecanismos levam à poliploidia. Na fertilização natural e na fertilização in vitro convencional, existe a possibilidade de dois espermatozoides fertilizarem um óvulo, conhecida como dispermia. Essa causa pode ser reduzida pela injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), em que apenas um único espermatozoide é injetado no óvulo. Outra causa de triploidia é quando um espermatozoide diplóide fertiliza um óvulo, que é mais comumente visto em homens com baixa contagem de esperma.
Existem também outras causas de triploidia, incluindo um segundo corpúsculo polar que não extrude durante a ovogênese, a fertilização de oócitos binucleares e a endorreduplicação. Todos esses erros resultam em um ovócito diploide antes da fertilização com esperma. Esses mecanismos levam a resultados adversos da gravidez, como descrito anteriormente.
Como é possível a detecção de ploidias?
Para diferenciar embriões diploides, de haploides e triploides, o sequenciamento de nova geração (NGS) aplicado ao PGT-A é insuficiente, pois quando todos os cromossomos são afetados pelo mesmo valor anormal de número de cópias, o processo de normalização da leitura do NGS impossibilita identificar o número de conjuntos cromossômicos.
Para superar esta limitação, após a realização do sequenciamento de nova geração para aneuploidias, a Igenomix aplica uma análise adicional desenvolvida a partir da validação de eficácia de protocolo que foi comprovada e publicada cientificamente (1). Atualmente além da publicação realizada com especialistas de nosso grupo, existem outras publicações evidenciando a acurácia da detecção de ploidia em blastocistos (veja referências no final desse artigo).
Na Igenomix utilizamos a leitura de polimorfimos de base única (SNPs) para rastrear 357 regiões do genoma humano que irá identificar se o embrião possui 2 conjuntos cromossômicos, que é a condição de normalidade, ou se pelo contrário, o conjunto cromossômico está alterado.
Conclusão
Todos os ensaios clínicos randomizados publicados até o momento destacam o benefício de realizar o PGT-A para selecionar embriões viáveis para a transferência embrionária, que como consequência aumenta a taxa de implantação e reduz as taxas de aborto espontâneo (Dahdouh et al., 2015; Forman et al., 2013; Rubio et al., 2017; Scott et al., 2013; Yang et al., 2012). Além disso, foram relatadas transferências de embriões únicos juntamente com PGT-A ser mais rentável do que as transferências de embriões não analisado (Neal et al., 2016a).
Complementando o PGT-A com a análise de ploidias proporcionamos uma visão adicional e clinicamente relevante para uma Fertilização in vitro mais segura e eficaz aumentando as chances de ter um bebê saudável em casa.
Referências:
2 Accurate Detection and Frequency of Abnormal Ploidy in the Human Blastocyst
Bruno Coprerski é diretor de operações dos laboratórios Igenomix na América Latina