O desenvolvimento embrionário acontece em um ritmo padrão, porém existem casos em que os embriões alcançam o estágio de blastocisto de forma mais lenta.
Em muitos desses casos os embriões possuem potencial de implantação e por isso, são candidatos à transferência ao útero materno nos tratamentos de reprodução assistida.
No entanto, apesar de sua qualidade, os ciclos de Fertilização in Vitro (FIV) com embriões cujo desenvolvimento é mais lento, apresentam taxas de gravidez mais baixas em comparação com os embriões de qualidade similar que se desenvolveram dentro do tempo padrão.
Este fato levantou suspeitas sobre o possível desencontro de tempo entre o embrião e o endométrio como fator primário das baixas taxas de gravidez, pois um desenvolvimento apropriado, ainda que mais lento, não parecia ser razão suficiente para o alto índice de falhas no tratamento de fertilidade.
Para confirmar esta suspeita, foi realizada uma pesquisa retrospectiva. Os resultados foram publicados na revista científica Human Reproduction.
Embrião lento
Tradicionalmente, vinha sendo assumido que se um embrião não seguia o ritmo padrão de desenvolvimento, provavelmente existia algo errado com ele ou no mínimo este embrião não seria a primeira opção para a transferência. Porém, outra possibilidade não havia sido investigada em profundidade: a falta de sincronia com o endométrio.
O fato de ter um desenvolvimento mais lento, quando este desenvolvimento mostrava consistência com um bom padrão de qualidade, em teoria não deveria comprometer os resultados de implantação. Por outro lado, parecia mais lógico esta diferença de ritmo ter como consequência um desencontro com o momento ideal do útero materno, ou seja, com a janela de implantação.
A janela de implantação é o único período em que o endométrio está receptivo e preparado para ajudar o embrião a fixar-se nas paredes do útero. Sem essa ajuda, a gravidez não acontece. O tempo de receptividade endometrial é limitado, pode durar entre horas ou poucos dias, dependendo de cada mulher.
O estudo
Para entender os fatores de viabilidade dos embriões em relação com o tempo de desenvolvimento, a equipe de pesquisadores comparou as taxas de gravidez dos embriões considerados dentro do padrão normal com os embriões de crescimento mais lento.
A amostra foi dividida em três grupos, onde a transferência embrionária foi realizada a fresco em D5 e D6, ou a partir da transferência de embriões congelados. Respectivamente, o número de pacientes por grupo foi 822, 763 e 718. Na pesquisa, não foram incluídos embriões biopsiados para a análise dos cromossomos (PGT-A).
Um total de 3391 embriões de classificações semelhantes foi transferido a 1966 pacientes.
Resultados da pesquisa
Para determinar os resultados, foi estabelecida a taxa SIR, que representa o resultado do número de embriões que alcançavam os critérios para transferência dividido pelo total de embriões transferidos.
Os embriões mais lentos em seu desenvolvimento apresentaram taxas inferiores de SIR para transferências a fresco em D5 (44% verso 64%) em mulheres com idade inferior a 35 anos e uma diferença bastante superior em mulheres com idade igual ou superior a 35 anos (18% verso 56%). As taxas dos embriões mais lentos também foram reduzidas de forma semelhante nos ciclos frescos de D6, apesar do seu desenvolvimento e morfologia serem compatíveis com o momento de Transferência Embrionária adotado.
Tais diferenças não foram encontradas nos ciclos realizados com embriões congelados, onde as taxas de gravidez foram equivalentes para pacientes com idade inferior a 35 anos (57% verso 60%) e para idade igual ou superior a 35 anos (37% verso 42%).
A conclusão do estudo foi, portanto, que o fator de receptividade endometrial é o principal fator para o fracasso dos tratamentos de reprodução assistida com embriões que apresentam um ritmo de desenvolvimento mais lento quando a transferência é realizada a fresco, o que impossibilita adaptar a mesma com precisão que os ciclos com embriões congelados permitem.
A pesquisa também comprovou que os embriões apresentam uma mesma taxa de sucesso tanto em D5 quanto em D6.
Como foi avaliada a receptividade endometrial?
Neste estudo, a avaliação do endométrio foi realizada de acordo com os padrões tradicionais de preparo endometrial. A expressão gênica da receptividade endometrial por meio do teste ERA não foi incluída.
Human Reproduction Open, Volume 2018, Issue 4, 20 December 2018, hoy022
Marcia Riboldi, PhD – Geneticista e diretora da Igenomix Brasil