Reprogramar células da pele para produzir espermatozoides um dia será possível.
A produção de gametas artificiais é um projeto antigo da Igenomix. A publicação científica do nosso grupo sobre este tema na revista Fertility and Sterility foi em 2013. A pesquisa rendeu o prêmio KY CHA em Tecnologia de Células-Tronco para o Dr. Carlos Simón, concedido pela ASRM durante o Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva em 2014.
O projeto que iniciou na Igenomix como uma tese de doutorado, continuou sendo parte das pesquisas realizadas através da Fundação Igenomix e caminha para um dia ser uma solução para a gravidez em casos de infertilidade masculina severa ou união homoafetiva.
O objetivo inicial dessa pesquisa foi comprovar se era possível a conversão direta de células somáticas humanas masculinas em células germinativas meióticas por reprogramação in vitro de genes-chave.
Como as células são reprogramadas?
No primeiro momento da pesquisa, a reprogramação celular foi obtida com a ajuda de lentivírus para a edição genética. O lentivírus se integrava de forma estável ao genoma da célula hospedeira induzindo a uma conversão direta in vitro de células somáticas humanas linhagem germinativa.
Apesar de efetiva a reprogramação com vírus em laboratório, esta técnica não permitiria a utilização em pacientes reais, razão pela qual o protocolo de pesquisa atual mudou para a técnica de CRISPR Cas, uma evolução do projeto introduzida pelo Dr. Juan Carlos Izpisua Belmonte, uma das principais referências do mundo em edição genética, que agora colabora com esse desenvolvimento.
Ao contrário do conceito que se utiliza para explicar a ferramenta de CRISPR, ela não corta o genoma, mas sim aumenta a expressão dos genes determinados na pesquisa pelo período que interesse para os efeitos desejados.
Quanto teremos espermatozoides artificiais?
Tecnicamente os espermatozoides não seriam artificiais, pois não se trata de uma criação sintética. Os gametas serão fruto de uma célula humana, porém entendemos aqui que o ponto é simplificar a explicação de que a origem do espermatozoide não é natural, ou seja produzida pelo corpo de forma espontânea.
A nível laboratorial, em cerca de 3 anos será possível obter espermatozoides a partir da reprogramação genética. No entanto, a utilização em uma clínica de reprodução assistida ainda vai demorar.
Quando for possível produzir os espermatozoides, a linha da pesquisa estará focada em verificar a segurança para o uso clínico. Entre as comprovações necessárias, é fundamental ter plena segurança sobre a saúde dos espermatozoides para cumprir seu objetivo de gerar embriões saudáveis, demonstrando, por exemplo se os espermatozoides gerados em laboratório podem provocar modificações epigenéticas.
Susana Joya, Assessora científica Igenomix Brasil.