Até pouco tempo atrás acreditava-se que o útero fosse um ambiente totalmente estéril e livre da existência de microrganismos, hoje sabe-se que o trato reprodutivo feminino superior apresenta sim sua própria microbiota. O gênero mais abundante encontrado tanto na flora vaginal como uterina é o Lactobacillus, cuja presença já foi descrita benéfica e associada a saúde do trato reprodutivo. Além disso, quando o microbioma uterino é dominado por Lactobacillus bons desfechos de reprodução humana assistida são alcançados.
Em um estudo recente, conduzido entre agosto de 2020 a junho de 2021 em uma clínica de fertilidade do Japão, foi abordado, a nível de espécie, a presença de Lactobacillus no útero e sua correlação com taxas de gravidez. Trata-se de um estudo retrospectivo incluindo 151 mulheres com histórico de falha de implantação recorrente (RIF) em ciclos de fertilização in vitro (FIV), das quais amostras endometriais foram coletadas e analisadas microbiologicamente.
A microbiota das pacientes foi classificada em Lactobacillus dominante (LD) quando Lactobacillus representava ≥ 80% do microbioma, e em Lactobacillus não dominante (NLD) quando Lactobacillus representava < 80 % do microbioma. No primeiro grupo também foram analisadas as quatros espécies de Lactobacillus (L. iners, L. crispatus, L. jensenii e L. gasseri) separadamente.
No estudo, as bactérias mais abundantes encontradas no útero das pacientes com RIF foram os Lactobacillus, seguidos de Gardnerella, Streptococcus e Bifidobacterium, e não foram observadas diferenças estatísticas significantes entre os grupos LD e NLD em relação aos desfechos de FIV. Entretanto, quando as espécies foram analisadas separadamente, pontos importantes foram observados:
- As taxas de implantação eram significativamente mais baixas em mulheres com L. iners predominante, sugerindo que essa espécie pode ser responsável por ter efeitos adversos em mecanismos de implantação.
- Taxas de gravidez também se apresentaram reduzidas no grupo de pacientes LD quando a espécie em maior abundância era L. iners, indicando que funções uterinas são afetadas na presença da bactéria.
- A presença de Ureaplasma, bactéria causativa de endometrite crônica, era maior quando a microbiota uterina era dominada por L. iners.
Ao que se pode observar dos resultados obtidos há uma correlação negativa entre a presença abundante de Lactobacillus iners e taxas de gravidez. O estudo abre portas para maiores investigações acerca do gênero Lactobacillus no processo de reprodução humana, uma vez que se acredita ser particularmente importante para a gestação.
A Igenomix oferece o teste EMMA, que detecta quatro espécies de Lactobacillus além de outras bactérias presentes no endométrio que podem estar associadas a melhores desfechos reprodutivos.
Referência:
Kadogami D, Kimura F, Hanada T, Tsuji S, Nakaoka Y, Murakami T, Morimoto Y. Impact of Lactobacillus in the uterine microbiota on in vitro fertilization outcomes. J Reprod Immunol. 2023 Dec;160:104138. doi: 10.1016/j.jri.2023.104138. Epub 2023 Aug 22. PMID: 37717556.
Virginia Regla
Assessora Científica Igenomix