Síndrome do X-Frágil pode ser evitada com o estudo genético do embrião. Entenda quando é necessária e como avaliar o risco.
Durante o aconselhamento genético, recebemos muitas perguntas sobre a Síndrome do X-Frágil de mulheres que estão planejando a gravidez com o objetivo de prevenir que seu bebê seja afetado por esta doença genética hereditária.
Como surge a Síndrome do X-Frágil?
Antes de explicar como prevenir, é importante lembrar que a mutação genética responsável pela Síndrome X-Frágil é transmitida de forma hereditária através das mulheres e que pode afetar principalmente os descendentes do sexo masculino.
Como as mulheres possuem dois cromossomos X, se apresentarem a mutação, existe uma compensação genética que permitirá uma vida plena e quase sem sinais clínicos, com exceção a uma possível falência prematura da função ovariana, o que pode ser identificado através de uma avaliação da reserva ovariana através da contagem de folículos antrais e exame antimülleriano
Esta doença genética é desencadeada pelo excesso de repetições de 3 nucleotídeos (CGG) que formam o DNA. Todos nós carregamos repetições desses nucleotídeos no gene FMR1 que está localizado no cromossomo X.
Entretanto, existem faixas estabelecidas para determinar em que nível o excesso de repetições pode afetar a descendência, pois nem todas situações onde existe uma alteração no número de trinucleotídeos, existe o risco de filhos afetados, porém dentro da zona de risco, a probabilidade de transmissão aos meninos é de 50%.
Faixas de repetições e risco de X-frágil
O teste genético realizado para identificar a necessidade ou não de realizar um tratamento para permitir o nascimento de um bebê livre da síndrome do X-Frágil chama-se pesquisa molecular do gene FMR1 por PCR. O teste classificará o número de repetições CGG no gene FMR1 nas seguintes faixas:
- Até <45 repetições – faixa de normalidade: Não há risco.
- De 45 a 54 repetições – zona cinza ou zona intermediária: Apesar de ser uma zona intermediária, não há risco, o máximo que pode acontecer é na próxima geração o bebê receber uma expansão para o que é denominado uma pré-mutação, nunca para a doença propriamente dita.
- De 55 a 200 repetições – pré-mutação: Se o resultado da pesquisa molecular estiver nesta faixa, é preciso considerar a probabilidade de realizar um teste genético pré-implantacional (PGT-M), porque as mulheres que carregam esta pré-mutação têm uma chance elevada de gerar filhos afetados. Isso pode ocorrer pois a instabilidade dessas cópias CGG é maior durante a formação dos óvulos do que nos espermatozoides, o que faz com que, na mulher, a pré-mutação se transforme em mutação completa na geração seguinte com mais frequência que no homem.
- Acima de 200 repetições – mutação completa – afetados pela doença: Que no caso das mulheres, pode acontecer sem produzir sintomas, pois as mulheres (XX) possuem dois cromossomos X, que fazem a compensação entre si. No entanto, os meninos acometidos apresentam comprometimento intelectual, que varia desde dificuldades de aprendizagem e problemas de atenção até diferentes graus de atraso mental.
Portanto, um resultado pré-mutado situa as pacientes que querem ser mães em uma faixa maior de risco de transmissão da condição aos seus futuros filhos.
Como a Síndrome do X-Frágil é transmitida?
As crianças recebem um cromossomo materno e um cromossomo paterno. A mãe sempre transmite um cromossomo X e o pai pode transmitir um cromossomo X ou um Y, por isso é através do espermatozoide que o sexo do bebê é definido.
No óvulo, é possível que qualquer um dos dois cromossomos X da mãe tenham sido transmitidos, por isso, existe um risco de 50% do futuro bebê receber o cromossomo com o gene alterado e 50% de chance de receber o cromossomo com o gene normal.
No caso de uma gravidez de menina, assim como a mãe, essa criança quase não produzirá sintomas e poderá transmitir a doença a um futuro filho menino. Já no caso de uma gravidez de menino, existe o risco de manifestação da Síndrome do X-Frágil, uma doença que muitas vezes é confundida com o autismo.
Relação entre X-frágil e baixa reserva ovariana
Como dito, um possível sinal da presença da mutação genética que pode dar origem à Síndrome do X-Frágil é uma reserva ovariana diminuída em relação à faixa etária.
Por isso, quando o resultado do exame anti-mülleriano ou ecografia para a avaliação da reserva ovariana aponta para uma diminuição superior ao esperado para a idade, pode ser um alerta para investigar uma possível alteração no gene FMR1.
Larissa Antunes – Geneticista