Na hora de realizar uma avaliação de parâmetros da fertilidade masculina, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (2010) (1) é um tempo de abstinência ejaculatória recomendado de 2 a 7 dias.
Porém um estudo recente da Escola Paulista de Medicina concluiu que um menor período de abstinência ejaculatória proporciona melhor qualidade seminal, o que pode ser importante na tomada de decisão médica nas técnicas de reprodução assistida e melhores taxas de fertilização e implantação dos embriões.
Sobre o estudo
A pesquisa publicada por Okada e colaboradoras (2) (entre as colaboradoras está Rhayza Andretta, PhD, que é assessora científica para os projetos de pesquisa da Igenomix Brasil), comparou a qualidade seminal em dois períodos de abstinência ejaculatória dos mesmos homens: 1 dias e 4 dias.
O estudo envolveu 65 homens brasileiros, com idade entre 20 e 45 anos, que realizaram a coleta seminal com 1 dia e 4 dias de abstinência ejaculatória. As coletas foram realizadas na mesma semana, e as seguintes análises foram realizadas a fim de se comparar a qualidade seminal:
- Espermograma: análise do sêmen no qual é verificado o volume do ejaculado (mL), a concentração de espermatozoides (milhões/mL), a motilidade (%), o pH, a morfologia (%), a concentração de células redondas (milhões/mL), a concentração de neutrófilos (milhões/mL), entre outros parâmetros.
- Integridade do acrossoma: o acrossoma é um componente do espermatozoide, localizado na cabeça, que se origina do complexo de Golgi e contêm enzimas necessárias para que o espermatozoide sofra reação acrossômica, capacite e realize a fertilização(3). Assim, espermatozoide com acrossoma não íntegro, consequentemente, apresentam uma diminuição na capacidade de penetração do espermatozoide na zona pelúcida do oócito.
- Atividade das mitocôndrias: análise colorimétrica realizada nas mitocôndrias que estão localizadas na peça intermediária do flagelo dos espermatozoides. Essas organelas possuem papel chave no movimento dos espermatozoides, e consequentemente na capacidade dos espermatozoides atingirem o oócito.
- Fragmentação de DNA: análise que verifica as regiões fragmentadas no DNA dos espermatozoides. Quanto menos fragmentado estiver o DNA desses espermatozoides, melhor será a sua qualidade, elevando assim, as chances de fertilização e consequentemente melhora na qualidade embrionária e desenvolvimento saudável do embrião.
- Estresse oxidativo no plasma seminal e nos espermatozoides: é a relação desigual entre as espécies reativas ao oxigênio e os antioxidantes, que, em excesso, pode levar a piora na qualidade dos espermatozoides e, consequentemente, nas chances de fertilização.
Conclusão
Como conclusão, as pesquisadoras observaram que apesar de 4 dias de abstinência ejaculatória apresentar melhores resultados quantitativos (maior volume seminal e concentração dos espermatozoides), as amostras de 1 dia de abstinência ejaculatória mostraram melhores resultados em relação a qualidade dos espermatozoides, como:
- Melhor motilidade
- Função espermática (integridade acrossômica, atividade mitocondrial e Integridade do DNA nuclear)
A diferença entre o tempo de abstinência nos resultados provavelmente foram obtidos pela diminuição do estresse oxidativo sobre os espermatozoides durante o período de armazenamento na cauda do epidídimo. Um período menor de estocagem dos espermatozoides os deixa menos vulneráveis à ocorrência de danos pelo estresse oxidativo.
Qualidade do espermatozoide
Saiba mais sobre a avaliação da fertilidade masculina na entrevista realizada pelo andrologista Dr Conrado Alvarenga:
Rhayza Andretta, PhD é assessora científica
Referências:
- World Health Organization. WHO laboratory manual for the examination and processing of human semen. 5a. ed. Geneva Switzerland. WHO Press. 2010
- Okada, F. K., Andretta, R. A., Spaine, D. M. One day is better than four days of ejaculatory abstinence for sperm function. Reproduction and Fertility, 1-10, 2020.
- Knobil, E. & Neill, J. – The physiology of reproduction. New York. Raven Press, 3ª. Ed., 2006.