O desenvolvimento embrionário no laboratório de FIV é um assunto que gera muitas dúvidas, como por exemplo o melhor dia para a transferência do embrião. Com a chegada do teste EMBRACE, onde a gota do meio de cultura para a análise cromossômica do embrião é coletada no dia 6 de desenvolvimento, esse debate ganhou mais visibilidade.
Sabemos que é possível que embriões que permanecem em cultivo estendido, nos dias 5, 6 ou 7, podem gerar o nascimento de um bebê saudável. Pesquisas realizadas na área buscavam responder qual seria o ideal para o embrião, se biopsiar o blastocisto em dia 05, independentemente do seu grau de expansão e aspecto de desenvolvimento, ou se o ideal seria aguardar este embrião evoluir, como nos casos em que o embrião se desenvolve mais lentamente, realizar o procedimento de biópsia tardiamente de acordo com a sua evolução.
Como resultado das pesquisas publicadas até o momento, a conclusão foi que esperar vale a pena. Alguns estudos sugerem que os resultados clínicos de embriões em dia 5 e 6 são equivalentes e outros, que os resultados são superiores para o dia 5. No entanto, o formato e propósito dos estudos realizados até agora possuem o viés de considerar embriões com tempos de desenvolvimento diferentes.
Portanto, apesar da informação que dispomos no momento proporcionar tranquilidade sobre os embriões em dia 6, estamos diante de uma pergunta diferente. A questão atual é: Um embrião com boas condições no dia 5 perderia sua capacidade de gerar um nascimento se tivesse que estar mais um dia em cultivo?
Essa é a pergunta a ser respondida com o novo protocolo de realização do estudo cromossômico no meio de cultura embrionária EMBRACE, também conhecido como PGT-A não invasivo (niPGT-A).
As evidências nesse sentido são os resultados da pesquisa randomizada (RCT) publicada na revista científica AJOG realizada em 8 clínicas de reprodução humana, onde o protocolo de manter o embrião 6 dias em cultivo foi colocado em prática em um total de 1301 embriões, com resultados reprodutivos satisfatórios, compatíveis com os resultados clínicos de embriões de dia 5.
Os resultados sugerem que não há um impacto negativo em manter os embriões em cultivo até o dia 6. A segunda parte do estudo RCT, que está em andamento, irá responder com clareza esta pergunta dentro da realidade do novo protocolo EMBRACE, apresentando as taxas de gestação e implantação em embriões que não foram biopsiados nem manipulados durante o seu desenvolvimento até a coleta do meio de cultivo para a análise genética.
Manipulações durante o desenvolvimento embrionário afetam seu grau de expansão
Atualmente a realidade das clínicas que apresentam um alto grau de expansão embrionária em dia 6 de desenvolvimento, apresentam cenários específicos:
- Assisted Hatching
Uma parte considerável dos embriologistas aplicam um protocolo de Assisted Hatching (AH) durante o cultivo do embrião. Esta prática, consiste em realizar uma pequena ruptura na Zona Pelúcida (ZP) do embrião. O corte realizado nesta camada tem como propósito facilitar o procedimento de biópsia embrionária, evitando possíveis danos ao embrião propriamente dito. Porém, observa-se que os embriões onde foram realizados o AH durante o cultivo, alcançam graus de expansão maiores e em menos tempo em comparação com embriões que não são manipulados.
- Experiência com embriões mais lentos
Como até o momento não havia uma razão pela qual era preciso manter o embrião até o dia 6 de desenvolvimento, salvo nas situações em que os embriões apresentavam um desenvolvimento mais lento, a experiência dos laboratórios com o cultivo prolongado é um procedimento diferente do padrão habitual.
Embriões euploides transferidos em dia 5 e dia 6 apresentam taxas de sucesso similares
Conforme estudo realizado por Capalbo e colaboradores (Capalbo et al., 2014), publicado na revista científica Human Reproduction, Embriões cromossomicamente normais (euploides) em dia 5 e dia 6 apresentam uma taxa de implantação embrionária similares, conforme observamos no gráfico abaixo.
O estudo do Capalbo também analisou as taxas de sucesso de embriões euploides de dia 7, que apresentaram uma taxa de implantação de 50%, porém por haver uma baixa quantidade de casos, esta informação não foi incluída na comparativa.
Marcia Riboldi, PhD – Geneticista e CEO Igenomix Brasil
Referências:
Capalbo A, Rienzi L, Cimadomo D, Maggiulli R, Elliott T, Wright G, Nagy ZP, Ubaldi FM. Correlation between standard blastocyst morphology, euploidy and implantation: an observational study in two centers involving 956 screened blastocysts. Hum Reprod. 2014 Jun;29(6):1173-81. doi: 10.1093/humrep/deu033. Epub 2014 Feb 26. PMID: 24578475.