Falar da importância da Reprodução Assistida e dos tratamentos de fertilidade quando a vida de todos está em jogo pode parecer inadequado, mas a realidade é que temos que pensar no futuro. Quando a pandemia do COVID-19 acabar, o próximo passo é agir para ajudar a sociedade a retomar seus sonhos e tratamentos.
O fechamento das clínicas de reprodução humana não é o pior dos nossos problemas, mas sim parte do nosso compromisso de evitar que o coronavírus se espalhe ainda mais. As precauções foram anunciadas pelas sociedades científicas internacionais especializadas em medicina reprodutiva ESHRE, ASRM, RED LARA, bem como pelas sociedades brasileiras e ANVISA.
Não apenas enfrentamos um vírus, mas também estamos diante de uma mudança de paradigmas que nos exige adaptar formas de compartilhar os estudos científicos que ajudam a tomar melhores decisões, já que os tradicionais encontros mundiais presenciais foram cancelados.
Por parte da Igenomix, além da liberação do portal de aprimoramento contínuo IVF-edu, a Fundação Igenomix deu início a uma série de webinars nacionais e internacionais que estão permitindo compartilhar informação científica para um planejamento dos próximos passos após o COVID-19. Você está convidado para ser parte desse movimento de conhecimento e para unir-se às equipes da Igenomix para iniciar linhas de pesquisa que ajudarão a superar e entender o impacto do Sars-CoV-2 no sistema reprodutor.
Você está pronto para uma era pós-pandemia?
Desde o dia 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia desse vírus que pertence a um grupo que causa problemas respiratórios. Seu alto poder de contágio colocou em risco milhões de pessoas e tomou milhares de vidas.
Os sintomas do COVID-19 podem incluir febre, tosse e falta de ar. Os pacientes com doença mais grave podem ter linfopenia e achados nos exames de imagem do tórax sugestivos de pneumonia. Ela é perigosa principalmente para pessoas com baixa imunidade ou problemas pulmonares.
Apesar de ser a terceira pandemia do século 21 (MERS|SARS|COVID19) e apresentar uma taxa de mortalidade mundial baixa quando comparada com outras doenças, a alta propagação desse novo coronavírus nos está impedindo de manter a salvo as pessoas em risco, além de impor uma mudança em nossa rotina.
Não há como negar que este fato representa um antes e um depois em nossas vidas. Precisamos estar preparados para recomeçar, quando chegue o momento.
Testes para COVID-19, a maneira de saber onde estamos e tomar medidas para o controle
Para saber se tivemos contato com o COVID-19 anteriormente, se estamos infectados ou se nosso organismo não foi exposto ao vírus, necessitamos de mais de um exame. Os métodos de diagnóstico imunológicos, genéticos e moleculares são chave.
Precisamos diagnosticar a doença mediante PCR ou sequenciamento de nova geração e conhecer também a resposta imunológica para determinar o momento exato em que nos encontramos, conhecendo a memória imunológica quanto ao IgG e IgM.
Os testes imunológicos rápidos podem ser uma solução em um determinado momento, mas podem resultar negativos quando realizados no estágio inicial da infecção, onde a pessoa ainda não desenvolveu anticorpos IgM e criar uma falsa sensação de que não está infectada. Portanto, é necessário o diagnóstico também mediante Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ou Sequenciamento de Nova Geração (NGS) para detecção de antígenos virais que podem ser observados logo no início do contágio além de conhecer também a resposta imunológica quanto ao IgM e IgG.
Da mesma forma que atualmente é importante saber se uma gestante teve rubéola, e tomou as medidas necessárias para evitar a mesma durante a gestação com a possibilidade da vacinação, devemos começar a pensar se não será necessário e prudente saber se uma doadora de óvulos teve ou não o coronavírus, assim como as nossas pacientes.
Pesquisa e cautela no período reprodutivo
A informação sobre pandemias anteriores de coronavírus é a de que esse grupo de vírus não parece ter afetado as gestações. Porém não existe uma literatura científica robusta que permite chegar a conclusões irrefutáveis, pois a casuística é baixa.
É possível adquirir o conhecimento sobre como atua o vírus e os efeitos sobre a reprodução utilizando modelos animais, porém a realidade é que estes estudos levam um tempo a serem concluídos e podem não refletir exatamente o que pode acontecer com humanos. Talvez agora durante a atual pandemia, com um número maior de afetados e com uma mobilização científica que depende de todos nós especialistas em medicina reprodutiva, podemos entender um pouco mais.
À parte do tratamento com Ribavirina, que foi constatado afetar os bebês nas pandemias anteriores (SARS e MERS), por ser embriotóxico e que nesta ocasião não está sendo utilizado para tratar o COVID-19, conhecemos pouco sobre a transmissão vertical da infecção (mãe-bebê). Por esta razão, é aconselhável manter a precaução e agir com cautela nesse momento. Da mesma forma, é recomendável dar início a trabalhos de investigação clínica nos casos em humanos que existem na atualidade.
A melhor recomendação é a prevenção
A OMS recomenda testar todos os cidadãos e, apesar de saber que esta pode ser uma utopia em muitos países, talvez seja uma responsabilidade civil de cada organização colocar este projeto em ação em seu âmbito de alcance.
Nas clínicas de reprodução assistida, seria ideal antes de retomar os tratamentos testar colaboradores, pacientes e doadores, estabelecendo um círculo de segurança para todos, onde podemos garantir um tratamento em um ambiente livre de COVID-19.
Não temos informação suficiente para tomar decisões no momento, por isso a cautela é nosso maior aliado. Por enquanto, os tratamentos devem ser interrompidos e novos tratamentos não devem ser iniciados, mas em um futuro próximo, precisamos considerar os testes diagnósticos existentes que permitam um recomeço com maior confiança e segurança.
Nessa fase de quarentena, o casal pode contar com aconselhamento genético online para tomar decisões mais bem informadas e realizar testes para conhecer sua compatibilidade genética e o risco de gerar descendentes afetados por uma doença genética antes de iniciar a fertilização in vitro.
Conforme afirmou o professor Carlos Simón no primeiro webinar da série Gravidez e COVID-19, disponível na plataforma IVF-edu de forma gratuita para especialistas, “em primeiro lugar está a vida. Na era pós pandemia, uma reprodução segura é o que será exigido por todos, por isso precisamos de dados. Não podemos pensar em subvenções governamentais para pesquisa, como cientistas e especialistas em saúde, temos que colocar nossos recursos para encontrar o caminho. Estamos rodeados de vírus e temos que saber como manejar esta situação”.
Marcia Riboldi, PhD – Geneticista e Diretora da Igenomix Brasil