Muitos países estão colocando em prática o estudo de anticorpos para identificar uma suposta resistência ao COVID-19 e dessa forma estabelecer um plano mais seguro de retorno ao convívio social. Mas será que o teste que tem sido conhecido como passaporte imunológico pode garantir imunidade frente ao novo coronavírus?
A OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciou que apoia estes testes como uma forma de entender o contexto, extensão e fatores de riscos associados à infecção, porém ressalva que estes testes não determinam ou garantem imunidade vitalícia, recordando que os testes não foram desenvolvidos com esse objetivo.
De acordo com as considerações da OMS e conhecimento até o momento pela equipe científica do grupo Igenomix com base nas evidências acumuladas sobre o novo coronavírus, foi desenvolvido o Passaporte Biológico como uma estratégia de ampliar o conhecimento sobre o contágio e aumentar a confiança da testagem da população com a combinação de dois testes para a detecção do COVID-19: PCR em tempo real, a técnica considerada padrão ouro para a análise do material genético do SARS-CoV-2 e ELISA, para a detecção de anticorpos.
O teste por PCR da Igenomix contempla a análise do ácido nucleico viral enquanto o ELISA analisa anticorpo IgA e IgG que surgem dias após a exposição frente ao antígeno. Os kits utilizados para execução dos exames foram aprovados pela Anvisa.
Como o corpo responde a um microrganismo?
O desenvolvimento da imunidade a um patógeno através de uma infecção natural é um processo de várias etapas que geralmente ocorre ao longo de uma a duas semanas.
Através do Passaporte Biológico, graças à técnica PCR é possível detectar a presença do material genético do SARS-CoV-2 inclusive em pacientes assintomáticos que tiveram contato em locais ou com pessoas infectadas. Enquanto o corpo ainda não desenvolveu uma resposta imunológica frente ao vírus, o que pode ocorrer geralmente até o sétimo dia após contágio, o paciente e/ou seu médico poderá tomar as medidas necessárias de contenção.
Em geral, o corpo responde a uma infecção viral imediatamente com uma resposta inata inespecífica na qual macrófagos, neutrófilos e células dendríticas retardam o progresso do vírus e podem até impedir que ele cause sintomas. Essa resposta inespecífica é seguida por uma resposta adaptativa, na qual o corpo produz anticorpos que se ligam especificamente ao vírus. Esses anticorpos são proteínas chamadas imunoglobulinas.
O corpo também produz células T que reconhecem e eliminam outras células infectadas pelo vírus. Isso é chamado de imunidade celular. Essa resposta adaptativa combinada pode eliminar o patógeno do corpo e, se a resposta for forte o suficiente, pode impedir a progressão para uma doença grave ou reinfecção pelo mesmo microrganismo. Esse processo é frequentemente medido pela presença de anticorpos no sangue.
Quando teremos certeza?
A OMS continua revisando as evidências das respostas de anticorpos à infecção por SARS-CoV-2. A maioria desses estudos mostra que as pessoas que se recuperaram da infecção têm anticorpos para o vírus. No entanto, algumas dessas pessoas têm níveis muito baixos de anticorpos neutralizantes no sangue, sugerindo que a imunidade celular também pode ser crítica para a recuperação.
Até 24 de abril de 2020, nenhum estudo avaliou se a presença de anticorpos para SARS-CoV-2 confere imunidade a infecções subsequentes por esse vírus em humanos, portanto, com o resultado do Passaporte Biológico não garante que todo paciente terá uma resposta imune eficaz frente a uma reinfecção. Aliás, nenhum outro teste oferecido no mercado no momento para o SARS-CoV2 garante que o indivíduo terá uma boa reposta se for exposto ao vírus novamente. Mais pesquisas são necessárias para entendermos bem como é a resposta imune para este microrganismo.
Luz para o caminho de uma sociedade livre de COVID-19
Além do estudo molecular para detectar a presença do vírus, os ensaios sorológicos são cruciais para o rastreamento do contato do paciente, identificando os hospedeiros do reservatório viral e para estudos epidemiológicos. Estudos epidemiológicos podem ajudar a revelar a extensão da propagação do SARS-CoV-2 em residências, comunidades e ambientes específicos; o que poderia ajudar a orientar as medidas de controle.
Portanto, proposta do Passaporte é justamente oferecer um direcionamento sobre o risco e orientar estratégias de retomada do mercado baseada em evidências, proporcionando informações que ampliam o conhecimento e segurança.
Referências:
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.18.20038059v1
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jmv.25702
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.02.20030189v1
https://www.who.int/news-room/commentaries/detail/immunity-passports-in-the-context-of-covid-19
Susana Joya, Assessora científica Igenomix Brasil.