Mais de 66 mil novos casos de câncer de mama serão registrados no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), até o final de 2021, ano em que boas perspectivas de novos tratamentos para tipos específicos da doença dão mais esperança aos pacientes que enfrentam este diagnóstico.
Um exemplo é o câncer de mama do subtipo triplo-negativo, considerado um tumor agressivo associado a menor sobrevida e alta taxa de recidiva (volta da doença) nos primeiros cinco anos após o diagnóstico. Mulheres com menos de 40 anos, maioria latinas e negras, têm maior chance de desenvolver a doença, que já corresponde a 20% de todos dos casos de câncer de mama. Também já é bem descrita a associação deste subtipo de câncer de mama com mutações germinativas (herdadas) no gene BRCA1. A nomenclatura “triplo-negativo (TN)” faz referência às células cancerígenas não terem receptores de estrogênio ou progesterona e não produzirem a proteína HER2.
Para os casos em estágio inicial do câncer de mama triplo-negativo, a novidade é a aprovação recente pelo FDA (Food and Drug Administration) do registro do pembrolizumabe associado à quimioterapia padrão. O benefício está relacionado ao fato de o anticorpo monoclonal humanizado aumentar a capacidade do sistema imunológico de combater as células tumorais. A combinação de pembrolizumabe adjuvante (após a cirurgia) e quimioterapia regular, também foi aprovada para o tratamento do câncer de mama triplo-negativo localmente avançado, metastático, com expressão de PD-L1.
Dados do estudo de fase III KEYNOTE-522, para a o tratamento de doença localizada, motivaram a avaliação do imunoterápico para o tratamento deste tipo de câncer. Foram randomizados 1174 pacientes com câncer de mama localizado de alto risco para receberem pembrolizumabe ou placebo associados à quimioterapia (carboplatina + paclitaxel seguido por doxorrubicina ou epirrubicina combinadas a ciclofosfamida).
O periódico New England Journal of Medicine publicou os estudos iniciais e uma atualização dos resultados foi recentemente apresentada na ESMO Virtual Plenary. A taxa de resposta completa foi 64,8% no braço pembrolizumabe e 51,2% no braço placebo, e o benefício foi consistente entre os diferentes subgrupos analisados, incluindo os subgrupos estratificados de acordo com a expressão de PDL-1. Adicionalmente, o tratamento com pembrolizumabe reduziu em 37% o risco de eventos adversos, desfecho que inclui progressão de doença, recidiva local ou à distância, segundo tumor primário ou morte por qualquer causa. Houve também uma tendência a benefício em sobrevida global em favor do braço pembrolizumabe. Na avaliação de segurança, a taxa de eventos adversos relacionadas ao tratamento de graus ≥ 3 foi 77,1% no braço pembrolizumabe e 73,3% no braço placebo, e a taxa de eventos adversos imuno-mediados foi 43,6% e 21,9% nos mesmos braços, respectivamente.
A notícia sobre a aprovação de pembrolizumabe deu mais fôlego aos profissionais de saúde de potencializar mudanças eficazes de tratamento, adicionando imunoterapia como parte integral do regime de tratamento para pacientes com câncer de mama TN em estágio inicial de alto risco.
Ainda em 2021, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) revisou suas recomendações para tratamento de tumores de mama metastáticos de um outro subtipo. Neste caso, para pacientes com câncer de mama HER2-negativo, com receptores hormonais (RH)-positivos e previamente tratados com linhas hormonais ou RH-negativos. A última versão das diretrizes publicada em 2014 trazia evidências compiladas entre os anos de 2009 e 2013. O tratamento de tumores com perfil molecular HER2-negativo e RH-positivo metastáticos também foi avaliado.
Vale conferir os estudos para cada tipo de tumor:
TUMORES HER2-NEGATIVOS HR-NEGATIVOS (TRIPLO NEGATIVOS) COM EXPRESSÃO DE PD-L1
O estudo IMpassion130 avaliou a segurança e eficácia do uso de atezolizumabe em conjunto com paclitaxel albuminado em pacientes com tumores de mama metastáticos triplo-negativos que não haviam recebido tratamentos prévios no cenário metastático.
TUMORES HER2-NEGATIVOS HR-NEGATIVOS (TRIPLO NEGATIVOS) SEM EXPRESSÃO DE PD-L1
A publicação Egger et al. compilou, em 2020, as evidências de 10 estudos clínicos que comparavam quimioterapia baseada em platina versus quimioterapia baseada em outras drogas em 958 mulheres com câncer de mama triplo-negativo metastático.
TUMORES HER2-NEGATIVOS HR-NEGATIVOS (TRIPLO NEGATIVOS) QUE TENHAM RECEBIDO PELO MENOS DUAS LINHAS PRÉVIAS DE TRATAMENTO SISTÊMICO
O estudo ACENT alocou 529 pacientes com câncer de mama triplo-negativo, que tivessem recebido pelo menos duas linhas de tratamento sistêmico prévio, para receber sacituzumabe govitecan-hziy ou quimioterapia à escolha do investigador (eribulina, capecitabina, gemcitabina ou vinorelbine).
TUMORES HER2-NEGATIVOS HR-NEGATIVOS (TRIPLO NEGATIVOS) PORTADORES DE MUTAÇÕES NOS GENES BRCA1 OU BRCA2 QUE TENHAM RECEBIDO QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE, ADJUVANTE OU NO CENÁRIO METASTÁTICO
O estudo OlympiAD randomizou 302 pacientes com câncer de mama metastático RH-positivo ou triplo-negativo para receber olaparibe ou terapia padrão a escolha do investigador (capecitabina, eribulina ou vinorelbine)
Importante ressaltar que todas as revisões feitas até agora dão luz a novos caminhos para tratamentos que devem levar em consideração acesso e orientação médica de acordo com o estado clínico do paciente e compatibilidade às suas escolhas.
Marcia Riboldi, PhD é geneticista