O Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) é um marco anual de atualização científica em medicina reprodutiva. Para que você possa acompanhar os principais pontos abordados durante o encontro, que esse ano acontece na Dinamarca, Dra Marcia Riboldi, geneticista e VP Igenomix & Vitrolife LATAM compartilhou conosco os destaques do curso pré-congresso e primeiro dia de atividades.
Curso pré-congresso: Meiose: tudo que você precisa saber e mais
Com a participação de Stéphane Viville, Christian Ottolini, Ignasi Roig, Jennifer Gruhn, Karla Hutt, Petra Hajkova, Joris Vermeesch e Antonio Capalbo, o curso de meiose foi do básico ao complexo, reforçando vários pontos importantes para o entendimento do processo de divisão celular.
Mitose e meiose não são comparáveis:
- Mitose: produz células idênticas, é um ciclo
- Meiose: produz células haploides
- Meiose produz o processo de diversidade, é o motor da evolução
- Cross-over é diferente entre cada um dos cromossomos
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Diferenças entre os gametas femininos e masculinos
A produção de gametas é diferente, conforme os sexos:
Na mulher, a ovogênese começa no período fetal. Os primeiros oócitos são produzidos antes do nascimento, possuem uma liberação cíclica dessas células em processo de maturação que tem como resultado em apenas 100 óvulos maduros ao longo da vida.
Os homens começam a espermatogênese na puberdade, um processo contínuo por ondas e sem fim.
Epigenética na formação de gametas
Durante a gametogênese acontece uma reprogramação epigenética. O processo de transposome é muito complexo e possui total relação com a Epigenética:
Mosaicismo
Poderia ser produzido a nível gonodal?
Não, o mosaicismo, conforme estudo publicado por Popovic, et al., HR2019 tem origem na mitose.
Quando se tratam de estudos em relação às taxas e relevância do mosaicismo nos resultados de reprodução assistida, o melhor realizado, com caráter duplo cego, foi publicado na revista científica AJHG com a participação da Igenomix + General Life + Humanitas titulado Mosaic human preimplantation embryos and their developmental potential in a prospective, non-selection clinical trial. Na pesquisa, ficou evidente que embriões com mosaicismo de baixo grau (até 50% de células alteradas) possuem chances similares de implantação que embriões euploides. Assim mesmo, nessa situação o esclarecimento e aconselhamento genético para o paciente é fundamental. Um achado também importante dessa publicação foi que nenhum dos embriões aneuploides implantaram, evidenciando a segurança do resultado do PGT-A.
A fertilidade humana é moldada a partir das taxas de aneuploidias oocitária
Quando se trata de alterações cromossômicas, o óvulo tem maior relevância e o sêmen tem um papel secundário nesses tipos de erros.
Consequências das aneuploidias:
- Falha de implantação
- Perda gestacional (abortamento)
Por que nem todos os embriões euploides implantam?
Sem dúvida, as alterações cromossômicas são o principal fator de falhas de implantação e aborto, mas nem todos os embriões cromossomicamente normais vão implantar. Entender as outras possíveis causas é chave para melhorar o prognóstico das famílias que buscam a Fertilização in Vitro para realizar o sonho de ter filhos.
Com o avanço da investigação sobre genes relacionados com a infertilidade, pesquisadores têm identificado uma série de candidatos. Inclusive durante o congresso ESHRE estamos lançando o painel genético para a análise de genes ligados à infertilidade que você poderá conhecer em nosso stand. Conforme estudo publicado este ano na NEJIM (Dougherty et al.), 17% das mulheres com infertilidade sem causa aparente, possuem variantes genéticas ligadas à infertilidade.
Veja alguns estudos na imagem:
Influência da dieta e exercícios no espermatozoide e seu epigenoma
A obesidade é uma doença hereditária cada vez mais prevalente em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Está associada ao comprometimento da função reprodutiva, porém o efeito da perda e manutenção do peso corporal nos parâmetros do sêmen não está claro.
Em sua apresentação, Prof. Romain Barrès compartilhou dados da investigação sobre o efeito de uma perda de peso induzida por dieta de 8 semanas seguida de randomização para uma das quatro diferentes estratégias de manutenção de peso de 52 semanas; placebo e atividade habitual, exercício e placebo, liraglutida e atividade habitual ou liraglutida e exercício na qualidade do sêmen.
Como resultado, descobriram que a perda de peso induzida pela dieta foi associada a uma melhor concentração e contagem de espermatozoides, que foi mantida após um ano em homens que mantiveram a perda de peso. Em uma coorte separada, identificaram que a obesidade estava associada a uma assinatura epigenética específica no esperma e que o bypass gástrico induziu a perda de peso induzindo a remodelação de genes que controlam o desenvolvimento do cérebro.
Com isso, foi levantada a hipótese de que a perda de peso em homens com obesidade não está apenas associada a uma melhora nos parâmetros do sêmen, mas também na remodelação epigenética nos espermatozoides, que podem transferir sinais pós-fertilização modulando o desenvolvimento do sistema nervoso central na prole. Experimentos com animais usando um paradigma de intervenção nutricional sugerem que a nutrição pré-concepcional em machos afeta o fenótipo metabólico e comportamental da prole.
Não menos importante, além da infertilidade, existem estudos que encontraram uma relação entre a obesidade masculina e o aumento de risco de autismo na descendência, evidenciando a importância de manter o IMC dentro dos parâmetros de normalidade:
Microbioma endometrial
O grupo de investigadores da Igenomix foram os primeiros a desenvolver a análise do microbioma endometrial utilizando técnicas moleculares. Como resultado, mais de 70.000 testes genéticos da flora bacteriana do interior uterino foram realizadas em nosso laboratório.
Durante a ESHRE, o Prof. Carlos Simón, apresentou uma publicação científica de 2023 que constata mais uma vez a relevância clínica dessa análise em pacientes com repetidas falhas de implantação. Este estudo prospectivo somou 195 mulheres com falha recorrente de implantação (RIF) entre março de 2019 e abril de 2021 no centro de fertilidade de uma clínica no Japão (Hryo Hojin Shadan Kamiya Woman’s Clinic).
Existe uma densa correlação entre as espécies de bactérias e genes associados a gravidez química e perda gestacional, em contraste com nascimento e ausência de gestação, que mostra uma fraca relação.
Os mecanismos de interação de um endométrio patogênico com repetidas falhas de implantação são na bactéria, a metagenômica, que confirma um enriquecimento de patógenos no nível de espécie em pacientes com falhas reprodutivas e no nível endometrial, o sistema imunológico é o principal que se desregula.
Ampliando informação sobre o fator endometrial para além do microbioma, o curso sobre transtornos endometriais incluiu diversos ângulos sobre a saúde uterina, que englobou estudos células NK e interleuquinas, Síndrome de Asherman, endométrio fino, endometrite crônica, além de uma revisão sobre a análise da receptividade endometrial e injúria endometrial.
Encontro de clínicas que realizam EMBRACE ao redor do mundo
Aproveitando que a ESRHE reúne especialistas em reprodução humana vindas de todas as partes do mundo, aproveitamos a ocasião antes do início das atividades do Congresso para reunir, atualizar e fazer intercâmbio de experiência entre as clínicas que realizam a análise genética do embrião a partir do meio de cultivo embrionário, o EMBRACE, também conhecido como niPGT-A vem sendo aplicado na prática clínica desde 2020.
Acompanhe as próximas publicações de cobertura da ESHRE!
Marcia Riboldi, PhD – Geneticista e VP Vitrolife and Igenomix LATAM