O futuro da análise genética do embrião através de ferramentas não invasivas está a pleno vapor, com a análise do PGT-A não invasivo (EMBRACE), realizado a partir do sequenciamento genético das células embrionárias presentes na gota do meio de cultivo onde o embrião se desenvolve no laboratório (cfDNA) e time-lapse aliado à inteligência artificial, cobrem a maior porcentagem dos fatores embrionários ligados ao sucesso da implantação. Mas a evolução continua com o conhecimento e soluções para outros fatores como a epigenética, transcriptomica, proteomica e estresse oxidativo, que estão sendo investigados e avançando em alta velocidade, como apresentado pela Dra Carmen Rubio, diretora científica da Igenomix, durante sua apresentação no Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia ESHRE 2023.
O teste PGT-A não invasivo (niPGT-A) da Igenomix se chama EMBRACE. Uma análise que longe de substituir o PGT-A, tem outra proposta. Realiza a avaliação cromossômica sem “incomodar” o embrião com procedimentos que geram estresse, como cortes biópsia e vitrificação, que dependendo da qualidade embrionária não são recomendados. Como resultado do EMBRACE, médicos e pacientes recebem uma classificação para priorizar a transferência embrionária por ordem de maior potencial de gerar o nascimento de um bebê saudável. Atualmente esse teste apresenta uma alta taxa de informatividade (98,8%) e concordância (89,1%) em relação ao PGT-A.
Na medida em que o estudo prospectivo multicêntrico realizado pela Igenomix avança, resultados ainda mais promissores são apresentados. Observe na imagem que as atuais taxas de concordância em relação a massa celular interna são muitos similares entre PGT-A e EMBRACE:
Não menos importante, o estudo prospectivo compara as taxas de aborto de embriões que realizaram PGT-A ou EMBRACE, o que pode refletir não apenas os resultados cromossômicos, mas também o impacto da biópsia embrionária na sobrevivência de embriões. Especialmente quando a qualidade embrionária é baixa, considerar esse achado é fundamental.
Um embrião que está pronto no dia 5, continua saudável no dia 6
Clínicas que possuem apenas a experiência de transferir embriões no dia 6 de desenvolvimento por necessidade, ou seja, quando estes não estavam prontos no dia 5, sentem a preocupação de manter embriões até o dia 6. A boa notícia é que essa espera necessária para alcançar a melhor taxa de informatividade da análise não invasiva deixa de ser uma preocupação quando esse processo é incorporado na prática clínica, pois se vêm os bons resultados e integridade desses embriões.
De onde vem o DNA encontrado no meio de cultura?
Se imagina que analisar cfDNA em comparação com a biópsia de trofectoderma pode vir a ser uma vantagem, pensando que as células biopsiadas nem sempre refletem o embrião como um todo. Por essa razão, entender a origem do DNA livre circulante no meio de cultivo também é alvo de nossos estudos em colaboração com Nicolás Plachta da Universidade da Pensilvânia e a Fundação Carlos Simón.
Sobre essa pesquisa, assista o trecho da aula da Dra Carmen com novidades:
Existe lugar para o Score de Risco Poligênico (PGT-P)?
Se até o momento o PGT trabalhou com o dualismo de sim ou não, ou seja, euploide ou aneuploide, afetado ou não afetado por uma doença, o risco poligênico expressa tons de cinza. Para falar sobre o assunto, Professor Alan Handyside foi convidado para refletir sobre este tema que atualmente ainda é carregado de controvérsias.
Em sua aula, Dr Alan trouxe alguns pontos que coincidem com seu artigo de opinião publicado na revista Nature, onde cita que avançar na identificação de variantes genéticas que contribuem para a hereditariedade irá conduzir a um aumento da acurácia dos preditores de riscos futuros de diabetes, câncer, esquizofrenia e outras condições como malformações, atraso no desenvolvimento e autismo.
No entanto, é fundamental entender sobre as condições multifatoriais:
- A incidência das condições multifatoriais mais comuns com maior impacto na saúde pública, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares e risco de câncer, são influenciadas por uma combinação do estilo de vida, meio ambiente e risco poligênico.
- É preciso conduzir estudos com gêmeos para permitir estimar a hereditariedade.
- Estudos do genoma ampliado (GWAS) utilizando SNP array identifica variantes genéticas raras com amplo impacto e centenas de variantes comuns como baixo impacto.
- O Score de Risco Poligênico (PRS) é a soma de um número de alelos em um indivíduo portador.
- Uma porcentagem de risco poligênico alto e baixo apresenta um menor ou maior risco populacional de desenvolvimento de uma determinada condição.
A avaliação de risco poligênico não está limitada ao período pré-implantacional e pode ter utilidade clínica em diferentes momentos da vida. No caso do PGT-P, seu uso combinado com o PGT-M poderá vir a ser uma boa prática para a redução de risco residual da síndrome de câncer hereditário, por exemplo.
A respeito do PGT-P, atualmente a Sociedade de Genética Humana se posiciona contra pela ainda ausência de comprovação.
Marcia Riboldi, PhD – VP Vitrolife & Igenomix LATAM