A idade paterna, ao contrário da materna, não produz um aumento de embriões cromossomicamente anormais. Foi o que revelou o estudo realizado pela Igenomix publicado no Journal of Assisted Reproduction and Genetics. Essa é a maior pesquisa até o momento na área com foco nos efeitos cromossômicos do embrião com relação à idade do pai.
Muitos estudos científicos abordam o impacto da idade dos pais na saúde de seus descendentes, pois nos deparamos com um paradigma social em que o momento da decisão de ter filhos acontece cada vez mais tarde, o que é uma preocupação médica.
Até a data, alguns estudos sugerem que a idade avançada do pai pode levar a consequências negativas para a função testicular, morte fetal, anormalidades congênitas, transtorno do espectro do autismo¹ ou esquizofrenia². Sendo a relação entre a idade paterna avançada e as mutações monogênicas as mais marcantes, já que um estudo³ identificou que a cada ano avançado na idade paterna, aumenta em 2 pontos o risco de mutações de novo.
O estudo apresentado aqui analisou apenas as questões cromossômicas, portanto, não contrasta os dados dos outros fatores genéticos citados anteriormente, como o transtorno do espectro autista ou o risco de doenças monogênicas, por exemplo.
Como foi realizada a pesquisa?
Considerando a certeza de que a idade materna avançada é responsável pelo aumento de risco de alterações numéricas nos cromossomos embrionários (aneuploidias), fato que também é a principal causa de abortos durante o primeiro trimestre da gravidez, pesquisadores da Igenomix queriam avaliar se esta é também a realidade para os homens, que os são responsáveis por cerca de 55% das aneuploidias sexuais, incluindo 80% da síndrome de Turner e 50% da síndrome de Klinefelter.
Nessa pesquisa, para avaliar se os efeitos da idade paterna na saúde cromossômica do embrião possuem o mesmo peso existente no caso das mulheres, foram estudados 6.934 embriões, todos provenientes de óvulos de doadoras (menores de 35 anos e com fertilidade comprovada) e homens entre 18 e mais de 60 anos, de mais de 150 clínicas do Brasil, Espanha, EUA, Canadá, Índia e Emirados Árabes, entre 2016 e 2018. O estudo recebeu uma revisão institucional da Universidade da Miami Health System.
Prevalência de aneuploidias específicas por cromossomos por subgrupos de idade paterna. a Porcentagem total de aneuploidias. b Porcentagem de monossomias. c Porcentagem de trissomia. d Porcentagem de deleções parciais ou duplicações. *Tendência estatisticamente relevante.
Conclusões
Evidências de outros estudos apontam que a idade paterna avançada produz efeitos genéticos e epigenéticos na manifestação de doenças na descendência, no entanto, com relação aos aspectos cromossômicos, a idade paterna não parece exercer influência, conforme resultados da pesquisa aqui apresentada.
Marcia Riboldi – Geneticista e Diretora da Igenomix Brasil
¹Reichenberg A, Gross R, Weiser M, Bresnahan M, Silverman J, Harlap S, et al. Advancing paternal age and autism. Arch Gen Psychiatry. 2006;63(9):1026–32.
²MalaspinaD, Harlap S, Fennig S,Heiman D,NahonD, Feldman D, et al. Advancing paternal age and the risk of schizophrenia. Arch Gen Psychiatry. 2001;58(4):361–7.
³Kong A, Frigge ML, Masson G, Besenbacher S, Sulem P, Magnusson G, et al. Rate of de novo mutations and the importance of father’s age to disease risk. Nature. 2012;488(7412):471–5.