As mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 são pouco frequentes na população geral (afeta de 0,1% a 0,2% das mulheres), no entanto, são responsáveis pela maioria dos tumores de mama e ovário hereditários. Um estudo publicado pela revista científica Human Reproduction sugere que estas mutações podem ser também responsáveis pela redução da reserva ovariana dessas mulheres.
Na pesquisa, realizada com quase 700 mulheres da Austrália e Nova Zelândia, foi observado que as portadoras da mutação no gene BRCA1 (mas não no BRCA2) tinham quase 25% menos hormônio antimülleriano (AMH), um indicador da reserva de óvulos e, portanto, da fertilidade.
Os autores explicam que esta descoberta não indica necessariamente uma relação casual. Ou seja, mulheres com níveis baixos do AMH podem engravidar sem problemas, e ao contrário, também existem mulheres com altos níveis deste hormônio que não podem engravidar. Porém, a autora Dr. Kelly-Anne Phillips, do centro de câncer Peter MacCallum de Melbourne, explica que estes resultados deveriam ser levados em consideração para orientar as portadoras desses erros genéticos não adiarem muito seus planos de gravidez.
O Dr. Joan Brunet, chefe do programa de Câncer Hereditário do Instituto Catalão de Oncologia (ICO), em entrevista ao jornal espanhol EL MUNDO, comenta que o estudo demonstra a sensação que os clínicos já tinham quando identificavam que mulheres com esta mutação genética tinham menor reserva ovariana.
As mulheres com mutações nos genes responsáveis por corrigir erros no DNA têm um risco superior de desenvolver câncer de mama e também de ovário e trompas de Falópio. Por isso, dentro do programa de aconselhamento genético para essas mulheres, em ocasiões é recomendada a retirada dos ovários e das trompas (caso da atriz Angeline Jolie) para reduzir as possibilidades de desenvolver um câncer no aparelho reprodutor. Por esse motivo, muitas das portadoras decidem adiantar a gravidez, apesar de que até agora não se conhecia bem o papel das mutações do BRCA em outros aspectos não oncológicos. “Agora sabemos que quanto mais atrasem a maternidade, mais dificuldades as pacientes terão para conseguir a gravidez”, conclui Dr. Brunet.
Resultados do estudo
Das 693 mulheres participantes do estudo (com idades entre os 25 e 45 anos), 172 delas eram portadoras e 216 não portadoras em famílias com BRCA1, enquanto outras 147 e 158 eram portadoras e não portadoras em famílias com BRCA2. Todas conservavam os ovários e não estavam grávidas no momento em que foi coletada a amostra de sangue para a pesquisa.
Além de apresentar concentrações 25% inferiores do hormônio antimülleriano, as mulheres com BRCA1 pertenciam ao grupo com reserva ovariana mais baixa. Algo que não aconteceu no caso do BRCA2.
Os autores do estudo lembram que em 2010 um estudo de menor dimensão relacionou as mutações do gene BRCA com problemas para reparar os danos acumulados nos oócitos com seu envelhecimento, o que resulta em dificuldades para conseguir a gravidez. Conforme explica Phillips, o papel do BRCA2 na correção do DNA é mais limitado, razão pela qual considera plausível que o efeito da mutação no BRCA1 na reserva ovariana seja maior conforme aponta o estudo.
Estes resultados também coincidem com a hipótese de que o BRCA1 também esteja associado com um maior risco de menopausa precoce induzida pela quimioterapia, algo que ainda deve ser contrastado em estudos futuros.
O hormônio antimülleriano não é um indicador direto da fertilidade, pois outros fatores que influenciam nesse aspecto devem ser considerados para o diagnóstico, no entanto, este marcador é muito importante para prever as possibilidades de sucesso dos tratamentos de reprodução humana. A produção do hormônio AMH inicia durante o processo de formação do embrião e aumenta de níveis ao longo da vida até os 20 anos da mulher, para então iniciar uma redução até a menopausa.
Os resultados da investigação, segundo os autores, são especialmente relevantes para mulheres entre 30 e 40 anos, porque em mulheres até 20 anos, os efeitos do BRCA1 nos níveis hormonais do AMH são “clinicamente irrelevantes”.
Exame que detecta alterações nos genes BRCA
Na Igenomix oferecemos o teste genético dos BRCA1 e BRCA2 e o painel multigene Oncodona, que além dos genes BRCA1 e BRCA2 analisa outros 19 genes, totalizando 21 genes ligados ao aumento de risco do câncer de mama e ovário hereditários. No caso de resultado positivo, adotar medidas de seguimento e ou detecção precoce, tanto do paciente quanto de seus familiares, e inclusive para as futuras gerações, pois ao identificar o gene com alteração no embrião através do diagnóstico genético pré-implantacional (PGT-M), é possível evitar que os descendentes sejam portadores da mutação, e portanto, possam ser afetados pelo câncer hereditário causado pelas alterações nesses genes.
Fontes:
El Mundo
Human Reproduction, Vol.31, No.5 pp. 1126 –1132, 2016