Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), atualmente 7,6 milhões de pessoas no mundo morrem em decorrência dessas doenças a cada ano. Sua manifestação ocorre devido a uma série de alterações genéticas que vão desde mutações pontuais em genes até ganhos ou perdas de cromossomos completos.
Dada a quantidade imensa de informação sobre o câncer, obtida por meio de muitas pesquisas durante anos, não é possível cobrir todas as alterações genéticas e seus efeitos associados, portanto, nosso objetivo neste post é abordar as alterações cromossômicas e sua relação com algumas condições específicas.
Entendendo a diferença entre a aneuploidia constitucional ou adquirida
Uma diferença fundamental entre aneuploidia constitucional e adquirida é que no primeiro caso, a alteração cromossômica existe em muitos tecidos do estágio inicial do desenvolvimento embrionário. Essa condição pode ser detectada no embrião antes mesmo da gravidez através de uma Fertilização in Vitro (FIV) com o Teste Genético Pré-Implantacional para Aneuploidias (PGT-A), onde avaliamos aneuploidias constitucionais no embrião. Um embrião aneuploide pode levar a um aborto ou ao nascimento de um bebê com uma síndrome genética. Já a aneuploidia adquirida está presente apenas nas células somáticas, podendo ser observada em algumas leucemias e determinados tipos de tumores sólidos.
Quais os fatores de risco para o câncer?
O câncer pode ter várias causas, sendo elas externas ou internas. Os fatores externos envolvem os hábitos de vida do indivíduo, como por exemplo: tabagismo, obesidade, alimentação pouco saudável, exposição a poluentes e etc. Esses fatores podem aumentar o risco de desenvolvimento de mutações nos genes responsáveis pelo controle do ciclo celular ou aneuploidias adquiridas.
Em relação aos fatores internos, podemos citar as mutações hereditárias que aumentam o risco do aparecimento da doença precocemente como por exemplo, variantes patogênicas no gene BRCA aumentam o risco de câncer de mama e outros tipos de câncer. Mas, vale ressaltar que a maioria dos cânceres não são causados por alterações genéticas hereditárias.
Pacientes com aneuploidias constitucionais podem ter câncer?
A instabilidade cromossômica ativa a produção de tumores cancerígenos, por esta razão diversas síndromes genéticas estão ligadas a um aumento de risco de câncer. Ao estudar esta relação para identificar um aumento de risco oncológico, pesquisas revelaram que dependendo de cada cromossomo envolvido pode existir um aumento de risco de certos cânceres e redução de risco de outros.
Por exemplo, no caso da Síndrome de Down, o risco de tumores sólidos é reduzido quando comparado com a população geral, por outro lado, o risco de leucemias linfoblásticas na infância é superior em comparação com outras crianças não portadoras da trissomia 21.
É importante reforçar que uma alteração no cariótipo isoladamente não é suficiente para que um câncer se manifeste, assim mesmo, portadores de aneuploidias devem contar com aconselhamento genético individualizado para o entendimento de eventuais riscos e adoção de protocolos individualizados para o acompanhamento da saúde do paciente.
Susana Joya, Assessora científica Igenomix Brasil.
Referência:
Human Molecular Genetics, 2009, Vol. 18, Review Issue 1 doi:10.1093/hmg/ddp084