Se você vai fazer um tratamento de reprodução assistida com óvulos ou sêmen doados, é importante realizar o Teste de Portadores (CGT). O CGT identifica, por meio de uma análise de DNA de amostra de sangue, portadores saudáveis de variantes genéticas associadas a doenças hereditárias, promovendo a seleção de combinações genéticas mais seguras entre doadores e receptores.
Um estudo recente publicado na Reproductive BioMedicine Online este ano (2024) examinou como o teste de portador ampliado pode reduzir resultados adversos na gravidez e no período neonatal em ciclos de doação de óvulos. 4,6% dos ciclos de doação de óvulos apresentaram combinações de alto risco para condições autossômicas recessivas e 2,8% das candidatas a doadoras foram identificadas como portadoras de condições ligadas ao cromossomo X.
É comum que doadores, assim como toda a população, tenham alguma alteração genética. Cerca de 90% das pessoas são portadoras de variantes que podem afetar os descendentes – entretanto, haverá risco aumentado para condições recessivas se ambos parceiros reprodutivos apresentarem alguma variante no mesmo gene. Por isso, o CGT também é chamado de Teste de Compatibilidade Genética.
A conclusão do estudo foi que a aplicação do teste genético reduziu o risco de resultados adversos obstétricos ou neonatais em 55,7%.
Entendendo as doenças genéticas
Autossômicas recessivas (AR)
Essas doenças acontecem quando o gene afetado está em um dos cromossomos 1 a 22 (chamados de autossomos). Para a doença se manifestar, geralmente a pessoa precisa ter uma alteração genética (ou mutação) nas duas cópias do gene: uma herdada da mãe e outra do pai.
Se uma pessoa tem apenas uma cópia alterada e a outra cópia funciona normalmente, ela é chamada de portadora.
Os portadores muitas vezes não apresentam sintomas porque a cópia funcional do gene compensa a alteração. Porém, se os dois parceiros reprodutivos forem portadores de alterações no mesmo gene, há um risco maior de o bebê herdar as duas cópias alteradas e ter a doença. Estudos mostram que aproximadamente 90% das pessoas são portadoras de pelo menos uma condição genética, mesmo sem histórico familiar.
Alguns exemplos de doenças recessivas incluem:
- Fibrose cística (FC)
- Anemia falciforme
- Fenilcetonúria (PKU)
Ligadas ao Cromossomo X (XL)
Essas doenças são causadas por alterações em genes localizados no cromossomo X.
Nas mulheres: Como elas têm dois cromossomos X, geralmente existe uma compensação da cópia alterada. Por isso, mulheres com uma alteração no gene são chamadas de portadoras e, na maioria das vezes, não têm sintomas ou apresentam sintomas leves. Elas podem transmitir a cópia alterada para seus filhos.
Nos homens: Como eles têm apenas um cromossomo X, não há uma cópia saudável para compensar. Assim, se o gene no cromossomo X tiver uma alteração, eles geralmente desenvolvem a doença.
Exemplos de doenças ligadas ao X:
- Hemofilia
- Distrofia muscular de Duchenne (DMD)
- Síndrome do X Frágil
Quem pode fazer o Teste de Portadores (CGT)?
O CGT não é apenas para quem está fazendo tratamento com óvulos ou sêmen doados. Ele também é indicado para:
- Filhos de casamentos entre primos ou pessoas com parentesco: Nessas situações, o risco de transmitir alterações genéticas para os filhos é maior.
- Famílias de certas etnias, como judeus: Algumas etnias têm mais chances de carregar alterações genéticas específicas.
Nesses casos, é muito importante fazer aconselhamento genético antes de tentar engravidar, seja de forma natural ou com reprodução assistida. Isso ajuda a identificar riscos e a planejar a prevenção de doenças genéticas nos descendentes.
Posso usar o CGT para um diagnóstico pessoal de uma doença genética?
Não. O CGT não é um exame para diagnóstico de doenças genéticas em pessoas com sintomas ou queixas de saúde. Ele serve para avaliar se um casal/parceiros reprodutivos tem risco de transmitir doenças genéticas recessivas ou ligadas ao cromossomo X para os filhos. Se há uma suspeita de doença genética em você ou na sua família, o ideal é buscar uma consulta médica para indicar o exame mais adequado. O aconselhamento genético também pode ajudar a entender melhor os testes disponíveis e como eles funcionam.
O que fazer se eu e o doador tivermos uma alteração no mesmo gene?
Se você e o doador forem portadores da mesma condição genética recessiva, ou se a mulher ou doadora de óvulos tiver uma alteração ligada ao cromossomo X, o risco de ter um filho com a doença aumenta em relação à média populacional. Nesse caso, existem algumas opções para reduzir esse risco:
- Escolher outro doador que não tenha a mesma alteração genética.
- Fazer um teste genético nos embriões (PGT-M) para selecionar aqueles que não têm a alteração antes da transferência no tratamento de fertilização in vitro.
- Realizar um teste genético durante a gravidez (teste pré-natal) para verificar se o bebê está afetado.
- Seguir com os planos sabendo do risco, com o apoio de aconselhamento genético para entender as possibilidades.
Quero fazer o CGT antes de comprar a amostra do doador ou doadora. Como faço?
Converse com seu médico ou banco de gametas e peça orientação sobre o teste CGT antes de escolher o doador ou doadora. Se tiver dúvidas ou quiser discutir seu caso em detalhes, você pode agendar uma consulta com nossos geneticistas. Com o pedido médico em mãos disponibilizado pelo centro de reprodução assistida, entre em contato com nossa equipe para agendar a coleta da amostra.
Etapas resumidas do teste:
Por que o painel da Igenomix é superior em relação aos demais painéis existentes?
A Igenomix oferece algumas opções de CGT, entre elas o CGT EXOME, que permite a mais ampla seleção de genes. Um detalhe importante no momento de pesquisar painéis de portadores é saber se estão incluídas análises complementares para doenças que são relativamente frequentes entre as raras, mas que por uma limitação da tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS) utilizadas nesses painéis não podem ser detectadas. Na Igenomix realizamos testes complementares incluídos no CGT para:
- Gene CYP21A2, associado à Hiperplasia Adrenal Congênita
- Genes HBA1 e HBA2, associados à Talassemia
- Gene SMN1, associado à Atrofia Muscular Espinhal (AME)
- Gene F8, associado à Hemofilia*
- Gene DMD, ligado à Distrofia Muscular de Duchenne*
- Expansão do gene FMR1, associado à Síndrome do X Frágil*
*Condições ligadas ao cromossomo X
Também é possível a realização de um CGT PERSONALIZADO que incluirá uma avaliação compatível com a que o doador ou doadora realizaram no seu respectivo banco de origem.
Fazer o CGT e ter o suporte de um aconselhamento genético é fundamental para reduzir esses riscos e trazer mais segurança ao planejamento familiar.
Quer saber mais? Assista os vídeos:
CGT para planejamento familiar e seleção de doadores
CGT – Definição de portador, painel de portador e suas indicações
CGT – Análises complementares inclusas no Teste de Compatibilidade Genética
Laudo CGT: Como Entender o Teste de Compatibilidade Genética?
Taccyanna Mikulski Ali, MsC é assessora científica
Referências:
Palacios-Verdú, Gabriela et al.Mitigating adverse pregnancy and neonatal outcomes through expanded carrier screening in an oocyte donation programme Reproductive BioMedicine Online,104744
Martin J, Asan, Yi Y, et al. Comprehensive carrier genetic test using next-generation deoxyribonucleic acid sequencing in infertile couples wishing to conceive through assisted reproductive technology. Fertil Steril. 2015;104(5):1286-1293. doi:10.1016/j.fertnstert.2015.07.1166