Muitos bancos de sêmen e de óvulos realizam o rastreamento de mutações em seus doadores para a realização do teste de compatibilidade genética. Sendo que a maioria dos doadores testados possuem alguma variante genética. Isso significa que uma doença será transmitida?
Mutações genéticas x Doenças genéticas
Os painéis de portadores, também conhecidos como teste de compatibilidade genética, estudam a presença de mutações ligadas a doenças autossômicas recessivas, que são condições que se manifestarão nos futuros descendentes somente quando uma variante no mesmo gene estiver presente no DNA do óvulo e também no espermatozoide que irá gerar o embrião.
Segundo uma pesquisa realizada pela Igenomix com cerca de 2.500 pacientes (doadores de gametas; indivíduos que eram parceiros do paciente que recebeu o gameta doado; e casais que procuraram a reprodução assistida usando seus próprios gametas), a média de variantes genéticas por pessoa é 2,3. Sendo que 82% das pessoas são portadoras de ao menos uma alteração.
Meu doador ou doadora tem uma variante genética, e agora?
Ao selecionar um doador ou doadora é importante saber sobre a presença de mutações nos genes testados, para comparar com as que estão presentes no membro do casal que irá aportar o gameta no tratamento de reprodução assistida.
Disso se trata a compatibilidade genética, comparar se há alterações em genes em comum em pacientes assintomáticos e, portanto, compatíveis com o risco de transmitir uma doença hereditária, como por exemplo, Fibrose cística, Tay-Sachs, Atrofia muscular espinhal, entre outras.
Existem diferentes opções de testes, no caso dos painéis de portadores da Igenomix, há desde a possibilidade de analisar um gene completo ou painéis menores com as mutações mais frequentes, quanto rastrear mais de 6.000 mutações ligadas a 600 doenças genéticas, conforme recomendações das associações médicas ACOG (Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia) e ACMG (Colégio Americano de Genética Médica). O teste é realizado a partir de uma amostra de sangue de ambos os membros do casal ou do paciente e doador.
No caso da seleção de um doador ou doadora, conhecendo a variante genética, o membro do casal que aportará o óvulo ou espermatozoide pode analisar o gene específico da alteração identificada. Caso exista uma coincidência, existem duas opções:
- Procurar um outro doador.
- Rastrear a mutação no embrião através do PGT-M, teste genético pré-implantacional para doenças monogênicas.
Quando se trata de uma coincidência em tratamento de fertilização in vitro (FIV) onde o óvulo e espermatozoide são do casal, as alternativas para a gravidez são:
- Realizar o estudo do embrião para rastrear a mutação genética através do PGT-M antes da transferência embrionária e assim, identificar aquele que está livre da doença.
- Optar por realizar um tratamento com uso de óvulo ou espermatozoide doado.
Em ambas situações, é importante contar com o aconselhamento genético.
Analisar o embrião por PGT-A (PGS) não reduz o risco de doenças genéticas
Uma confusão muito comum é acreditar que por realizar a biópsia embrionária para o estudo do PGT-A (PGS) qualquer doença genética seria detectada. O PGT-A, teste genético pré-implantacional para aneuploidias analisa apenas os cromossomos, ou seja, o teste irá identificar trissomias, como a Síndrome de Down, Edwards e Patau e outras alterações cromossômicas ligadas a abortos e falhas de implantação, porém jamais irá identificar uma doença causada por uma mutação em um gene.
Qual é o risco de um casal ter uma mutação genética em comum?
O risco de um casal coincidir em uma variante genética de 5%¹. No caso de casais consanguíneos, este risco se eleva a 16%². Quando ocorre a coincidência, a chance de o bebê manifestar uma doença autossômica recessiva é de 25%.
Assista o bate-papo que tive sobre esse assunto com a Dra. Fernanda Affonso, diretora técnica do Lab Medicina Masculina.
Marcia Riboldi, PhD – Diretora da Igenomix Brasil
¹Martin J et al., Fertil Steril. 2015
²Martin J et al., PGDIS oral presentation 2017