Graças ao projeto do Microbioma Humano (Human Microbiome Project Consortium, 2012), o conhecimento sobre a influência das bactérias no nosso organismo vem crescendo a cada dia. Este conhecimento mostrou a relevância de identificar desequilíbrios ou patógenos no microbioma para melhorar o manejo clínico em diferentes áreas da medicina, inclusive a ginecologia.
Na ciência, acreditávamos que o útero era um ambiente estéril e livre de microorganismos e, em pouco tempo, entendemos que existe uma população de bactérias no endométrio que ajudam ou prejudicam o equilíbrio da fertilidade.
A constatação de que a microbiota endometrial pode afetar a implantação embrionária chegou com a publicação na revista científica AJOG (American Journal of Obstetrics and Gynecology), onde Dra Inmaculada Moreno, pesquisadora da Fundação Igenomix, identificou que diferentes microbiotas produzem diferentes resultados reprodutivos.
Através do sequenciamento genético das bactérias que habitam o útero, foi possível identificar com precisão tanto que a presença de lactobacilos está ligada ao sucesso da gravidez, quanto bactérias patogênicas que provocam uma endometrite silenciosa capaz de impedir a implantação do embrião ou causar um aborto.
Precisão no tratamento da endometrite crônica
Graças à utilização da medicina molecular, identificar exatamente os grupos de bactérias presentes no endométrio ficou mais fácil e confiável. Como resultado, o diagnóstico e tratamento da endometrite crônica provocada por patógenos deixou de ser um problema que levava muitos médicos a não investigar esse fator de infertilidade e perdas gestacionais.
Conforme outro estudo publicado na mesma revista científica, o estudo molecular do microbioma realizado através do teste ALICE, é mais efetivo no diagnóstico da endometrite crônica bacteriana que os métodos clássicos de histeroscopia, histologia e microbiologia.
Esta tecnologia tem como base a extração de DNA bacteriano seguida de amplificação e sequenciamento do gene 16S rRNA das bactérias que causam a endometrite crônica com maior frequência. O rRNA do gene 16S é conservado em todas as bactérias e presente em 9 regiões variáveis com sequências de DNA específicas para cada espécie. Com o resultado do teste, é sugerido o antibiótico mais adequado para combater a infecção, o que permitiu uma maior precisão no tratamento.
Como coletar e enviar uma amostra para os testes EMMA e ALICE?
O primeiro passo para analisar as bactérias do endométrio é realizar uma biópsia endometrial, coletando uma pequena quantidade do tecido que reveste a parede interna do útero. Esse é um procedimento simples realizado pelo ginecologista.
No entanto, a biópsia não pode ser realizada em qualquer momento do ciclo de uma paciente, já que a variação hormonal é um fator que influencia no crescimento da população de bactérias. Razão pela qual existem duas possibilidades de período ideal para a biópsia endometrial, dependendo do ciclo da paciente:
- Ciclos regulares: Entre o 15º e 25º dia do ciclo menstrual.
- Ciclos irregulares: Quando a paciente não possui ciclo, ou o ciclo é irregular, é preciso simular uma fase secretora através de um ciclo HRT para e fazer a biópsia durante os dias de ingestão de progesterona (preferencialmente em P + 5)
Posso fazer o teste EMMA e ALICE se faço uso de anticoncepcional?
Depende. Em situações de uso de contraceptivo é necessário consultar a Igenomix para orientação específica e personalizada.
Os antibióticos podem afetar os resultados do teste?
O ideal é que a paciente não tenha feito utilização de antibióticos durante o período de 3 meses que antecedem a biópsia endometrial. Mas, caso tenha feito, a substância ativa do medicamento, sua dosagem e intervalo de administração devem ser especificados no formulário de requisição do teste EMMA.
Também devem ser especificados qualquer antibiótico profilático para a recuperação de óvulos. Outras medicações que alteram a microbiota da paciente ou sua condição imunológica também podem afetar os resultados e, portanto, devem ser registradas no formulário de requisição do teste EMMA.
Atualização de tecnologia EMMA e ALICE em 2023
Após acumular o conhecimento através das mais de 70.000 amostras de endométrios analisadas na Igenomix, o estudo do microbioma endometrial utilizando a tecnologia NGS obteve um amplo conhecimento das famílias de bactérias mais frequentemente encontradas no interior do útero. Isso permitiu desenvolver um painel exclusivo fazendo uso da tecnologia de RT-PCR. A nova versão é ainda mais precisa para avaliar as bactérias presentes no endométrio para que o médico possa estabelecer as melhores condições de saúde uterina, pois detecta patógenos no nível da espécie, o que permite tratamentos mais direcionados, que são orientados no laudo dos testes EMMA & ALICE.
Lembrando que esta ferramenta para o diagnóstico da flora endometrial pode ser utilizada tanto para pacientes em busca de engravidar naturalmente, quanto aquelas que estão em tratamento de reprodução assistida.
Paula Queiroz, bióloga