Personalização baseada em evidências do processo de fertilização in vitro: o que você precisa saber e o que o futuro reserva?
Iniciando mais uma cobertura científica do Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva ASRM2022. Um dos principais encontros internacionais para especialistas em reprodução assistida.
No dia 23/10, a discussão sobre como aplicar tratamentos personalizados merece destaque.
O atendimento personalizado baseado em evidências é o ideal para todo paciente de fertilização in vitro. Muitos fatores únicos estão envolvidos na jornada de fertilização in vitro (FIV) de cada pessoa, incluindo diagnóstico de fertilidade, genética, estimulação ovariana, transferência de embriões, endométrio, receptividade uterina e resultados do PGT (teste genético pré-implantacional).
Você sabia que no guia da ASRM para a investigação inicial da infertilidade inclui a genética?
A capacidade de levar em conta uma abordagem mais personalizada com base em dados moleculares e gerados por algoritmos específicos para o oócito, esperma, embrião e útero pode ser útil para o médico fornecer cuidados de reprodução assistida, gerando um impacto positivo nos resultados do tratamento.
A sessão “Personalization of IVF Process” apresentou melhores práticas para a utilização de protocolos baseados em evidências para estimulação ovariana, transferência de embriões, preparação e avaliação endometrial. Fatores de laboratório de fertilização in vitro também foram abordados, incluindo o potencial de automação, seleção de embriões, inteligência artificial, criopreservação e robótica no laboratório de fertilização in vitro. A discussão também envolveu o PGT “não invasivo” versus “invasivo”, mosaicismo real e relação de fatores genéticos com resultados e o futuro da edição de genes.
Além disso, fez parte do programa como comunicar-se com o paciente para que todos os passos da FIV estejam claros antes da tomada de decisão, bem como a comunicação dos resultados aos pacientes é fundamental para a compreensão, adesão e confiança das pessoas em tratamento.
Resumo de conteúdos da ASRM2022
As técnicas para comunicar os resultados genéticos se concentraram nos diagnósticos de infertilidade, intervenções por meio de FIV e relação de fatores genéticos com os resultados.
A comunicação com o paciente sobre genética e sua relação com os resultados reprodutivos pode ser complexa porque a genética não é a especialidade do especialista em reprodução assistida. Neste sentido o apoio do aconselhamento genético é decisivo e parte da jornada do paciente.
Para apoiar o clínico a identificar fatores genéticos na análise do histórico familiar, Alleigh Boyd, CGC abordou a importância do histórico familiar.
Atualmente, inclusive para famílias sem histórico, algumas condições cognitivas como o autismo e seu respectivo risco genético costuma preocupar os pacientes. Pela importância de falar a respeito desse assunto, alguns dados foram apresentados.
Dentro da análise do histórico familiar, está incluído o fator cromossômico, que afeta uma parcela importante dos pacientes, já que entre 7,5%-10% das perdas gestacionais e 1 a cada 150 bebês nascidos, é afetado por uma alteração cromossômica.
As doenças monogênicas, ou seja, aquelas que são provocadas pela presença de uma alteração genética em um único gene, estão ligadas a doenças raras. Quando estas condições são de herança autossômica recessiva ou ligada ao X normalmente não há histórico na família. Por esta razão, diante de uma necessidade de reprodução assistida, onde muito esforço e expectativas estão em jogo, é importante abordar o risco de ocorrência e levantar suspeitas de casos na família.
Defeitos congênitos, muitas vezes são confundidos com doenças hereditárias, que também são um importante tema a esclarecer com os pacientes.
A consanguinidade representa um risco real à descendência que requer atenção. No Brasil, há uma alta incidência de consanguinidade, lembrando que não apenas primos de primeiro grau estão em risco. Todos os graus de consanguinidade devem ser estudados.
O propósito do painel de portadores é aportar informação útil sobre o risco de ter filhos afetados por doenças de herança autossômica recessiva e ligada ao X, proporcionando condições de apoiar os pacientes por opções reprodutivas baseadas nos seus valores pessoais.
O teste CGT pode ser a análise indicada para casos de consanguinidade, etnias específicas e inclusive população geral, já que a miscigenação das populações reduziu a eficácia de painéis de portadores com base em etnia.
ACOG, o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia possui recomendações em relação ao screening de portadores (CGT), também chamado de teste de compatibilidade genética.
Relação genética da falência ovariana:
Relação genética da perda gestacional:
Relação genética do Fator Masculino de infertilidade:
A infertilidade pode ser hereditária?
Opções reprodutivas diante do risco genético para os descendentes:
Qualidade do laboratório de FIV
A aula “Sistema criogênico a prova de falhas”, foi apresentada pelo cientista Charles L. Bormann, PhD, HCLD, do Hospital Geral de Massachusetts e Harvard.
Nos Estados Unidos em 2018 uma falha de controle dos processos dos tanques de congelamento e armazenamento de gametas, assim como embriões, causou a perda para mais de 1.000 casais. Com isso surgiram as exigências de controle de qualidade que incluíram pontos básicos para a segurança dos pacientes:
- No break
- Monitoramento
- Controle de temperatura
- Controle de nível
- Diferentes alarmes
O que mais uma clínica de FIV pode fazer para elevar a segurança?
Criação de um plano de emergência para possíveis desastres, por exemplo, alagamento.
Tecnologias atuais:
- Tanques convencionais
- Tanques automatizados
Seleção embrionária
A seleção embrionária tem por objetivo identificar o melhor embrião para a transferência para que os pacientes consigam o nascimento de um bebê saudável.
Como princípio, a seleção visa realizar um balanço entre minimizar o risco para o embrião e maximizar o potencial preditivo da seleção.
Possíveis métodos para selecionar embriões
Os métodos de seleção embrionária muitas vezes se complementam. Atualmente os principais são:
- PGT, a partir de uma biópsia embrionária
- niPGT, análise do meio de cultivo embrionário
- Morfologia, que sempre é um fator relevante e complementar a qualquer outro critério de seleção
- Time-Lapse
- Inteligência Artificial
O teste PGT-A apresenta um claro benefício com óvulos acima dos 35 anos, já que o índice de alterações cromossômicas aumenta com a idade materna.
A análise não invasiva no meio de cultivo embrionário vem evoluindo rapidamente, mas continua em discussão. Nos próximos dias da ASRM existem mais aulas sobre o niPGT-A que daremos cobertura, então acompanhe! Vamos falar novamente sobre as novidades bastante promissoras entre as clínicas que já estão fazendo uso dessa técnica de screening embrionário sem biópsia.
Morfologia e algoritmos de time-lipse
Será que estamos selecionando o melhor embrião? Existe consistência na seleção manual em comparação com a Inteligência Artificial?
Quando se trata de consistência, as máquinas aportam muito e eliminam o risco de operador dependente. Esse é o caminho que nós na Igenomix já vivemos na prática com o uso da inteligência artificial para emitir os resultados altamente confiáveis do PGT-A.
Mosaicismo, melhores práticas para interpretação e transferência, com Alleigh Boyd, CGC, Yale Maternal Fetal Medicine
Apesar dos avanços sobre o mosaicismo embrionário detectado nas análises pré-implatacionais, esse continua sendo um tema que precisa ser acompanhando e continuamente mais estudos se somam para compor um cenário bastante mais próximo da realidade.
O autor cita alguns estudos sobre o embrião em mosaico:
Ao considerar a transferência de embriões em mosaico, é fundamental uma análise detalhada das opções e incluir os pacientes na discussão e decisão. Uma das opções nessa situação é selecionar seguindo as orientações das sociedades tendo como base o cromossomo envolvido.
Recomendações de acompanhamento após a transferência de embriões em mosaico:
Recomendações a realizar após um bebê nascido através da transferência de um embrião em mosaico:
Conclusões
Marcia Riboldi é geneticista e diretora da Igenomix Brasil e Argentina