No segundo dia da Conferência Internacional de Pré-implantação genética (PGDIS2023) começou abordando os estudos para a cura através do PGT. Dagan Wells apresentou uma série de estudos demonstrando os primeiros resultados dos experimentos em embriões humanos com o uso de CRISP Cas9 no início do desenvolvimento embrionário. Utilizando essa ferramenta no momento da fertilização se deram conta que o embrião não chegava a blastocisto. Então, com experimentos nos primeiros momentos do desenvolvimento celular os resultados demonstraram o surgimento de alterações segmentais.
Muitos estudos ainda são necessários em edição genética antes de sua aplicação, mas esse será certamente o futuro para a cura de muitas doenças!
Também foi abordado em profundidade a análise embrionária e houve espaço para discutir sobre os painéis de portadores, na Igenomix conhecidos como CGT. Confira nos destaques dessa cobertura.
Mosaicismo Embrionário
Prof Alan Handyside abordou o estudo sobre a origem dos embriões mosaicos realizado com a análise de SNP array. A pesquisa foi capaz de identificar para quase todos os embriões analisados por PGT-A de origem meiótico, mas não conseguiu distinguir entre erros mitóticos e meióticos. Além disso não foi encontrada evidência de “auto-correção embrionária” (Handyside et al. 2021).
Um estudo muito interessante apresentado pelo Prof. Dhruti Babariya evidenciou as diferenças entre plataformas de PGT-A, deixando claro que os laboratórios de genética não todos são iguais. A concordância encontrada entre as plataformas foi de 81,4%.
Para reprodutividade e confiança nos resultados de PGT-A, uma validação rigorosa de protocolos e contínuo é determinante. Por exemplo, na Igenomix, os algoritmos próprios unido à robotização e inteligência artificial garantem uma alta reprodutibilidade, confiança e redução de riscos.
Lembrando que os resultados do PGT-A podem ser afetados não apenas pela plataforma do laboratório de genética, mas também por outros fatores ligados ao laboratório de embriologia e transporte de amostras.
Interpretação de mosaicismo embrionário e sua incidência no potencial reprodutivo
Mosaicismo continua sendo um tema de investigação e discussão. Esteve presente nas apresentações orais e também em um dos posters de especialistas da Igenomix Brasil. Esse estudo realizado a partir de 100 mil embriões analisados por PGT-A pela nosso laboratório em São Paulo trouxe muitos insights. A pesquisa, que também foi publicada na revista Frontier in Reproductive Health, apresentou análises estatísticas descritivas e associativas para avaliar as proporções de mosaicismo associadas a condições clínicas e incidência relatada por cromossomo, origem clínica e operador de biópsia. Entre os resultados, a pesquisa revelou que a maioria das aneuploidias de mosaico ocorreram nos últimos três cromossomos, com 78,06% dos casos tendo apenas um cromossomo afetado.
Durante a aula da Prof. Mandy Katz-Jaffe, foi abordado que o grau de mosaicismo não pode predizer fenótipos, além de reforçar pontos que estão apresentando consenso:
- Não devemos descartar todos os embriões mosaicos
- É preciso diferenciar entre alto e baixo grau de mosaicismo
Existe a possibilidade de um embrião identificado como mosaico resultar no nascimento de um bebê saudável, porém o risco não é zero. Dr Manuel Viotti apresentou números:
Ainda sobre mosaicismo houve também a apresentação de Laura Girardi conclui que apresentar os dados de mosaicismo é opcional para a clínica, mas sempre a política deve estar clara para os pacientes e que excluir embriões mosaico de baixo grau da transferência embrionária leva a uma redução possíveis euploides e expectativas de nascimento de um bebê saudável.
Vale a pena analisar triploidias no embrião?
Prof. Jose Miravet, de Igenomix, trouxe informações sobre a incidência de triploidias nas análises utilizando sequenciamento de nova geração (NGS) para analisar SNPs. Este fenômeno considerado raro, conforme o estudo que incluiu 1075 biópsias embrionária, apresentou uma incidência de 1,86% dos casos.
Translocações recíprocas
Com o objetivo de determinar os tipos de rearranjos com gênero, idade materna e a incidência de desbalanços cromossômicos, o estudo com 3598 biópsias embrionárias analisadas por NGS nos laboratórios da Igenomix chegou às seguintes conclusões:
- Translocações recíprocas são o rearranjo com menor porcentagem de embrião disponível para transferência e com maior taxa de desequilíbrios.
- Portadores de translocações recíprocas mostraram a maior incidência de aneuploide/desequilibrado.
Conclusões sobre a predição de euploidia utilizando KIDScore vs IDAScore
Passando de PGT-A para plataforma de time-lapse, o estudo indicou que tanto KIDScore quando IDAScore apresentam um potencial similar de predizer aneuploidia. Foi encontrado um poder de predição maior quando ambos coincidiam em non-aneuploidia, porém IDAScore mostrou ser mais vantajoso para predizer aneuploidia de forma consistente e conveniente.
São úteis os testes de portadores?
A conclusão sobre a utilidade dos painéis de portadores expandidos é evidente após a apresentação do Prof. L. Shulman sobre a experiência com a aplicação do painel de portadores desde 2009:
- Seu uso reduz disparidades em populações diversas.
- A etnia autodeclarada é imperfeita para prevenir ancestralidade e, portanto, os painéis baseados em etnias podem ser limitados, conforme estudo realizado com mais de 93 mil indivíduos que realizaram o painel de portadores.
- Fatores socioeconômicos e religiosos impactam na probabilidade de realização de um painel de portadores, bem como na visão sobre seleção de sexo, pesquisas em embrião e edição genética, reforçando a importância do aconselhamento genético individualizado.
- O histórico familiar na recomendação de painéis de portadores tem um valor limitado, já que a maioria dos nascidos com doenças genéticas não apresenta histórico da condição.
- Sem realizar um painel de portadores, os futuros pais não sabem que podem atuar na redução exponencial de um potencial risco utilizando o diagnóstico pré-implantacional do embrião na Fertilização in Vitro.
- Os aspectos éticos do aconselhamento genético são fundamentais. Para guiar os especialistas a ESHRE dispõe de recomendações.
Marcia Riboldi é geneticista e VP S&M Igenomix e Medical Devices Latinoamérica do Grupo Vitrolife