O transtorno de espectro autista, popularmente chamado de autismo, preocupa muito as famílias. Uma pergunta que recebemos com frequência é sobre a possibilidade de prevenir o autismo da mesma forma que outras doenças genéticas são evitadas através do tratamento de Fertilização in Vitro (FIV) com o Teste Genético Pré-Implantacional para Doenças Monogênicas (PGT-M), realizado nos embriões antes da gravidez.
Quando o autismo está relacionado com uma doença monogênica, ou seja, que afeta um único gene, é possível realizar a prevenção. Para tanto é preciso conhecer variante genética patogênica em questão analisando o DNA da família de forma individualizada. Um exemplo dessa situação é a Síndrome do X Frágil.
No entanto, a maioria dos casos do transtorno do espectro autista é de origem multifatorial, envolvendo mais de um gene, o que impossibilita o seu rastreamento através das técnicas disponíveis de diagnóstico genético do embrião.
O que é uma doença de origem multifatorial?
Uma doença de origem multifatorial, como o nome sugere, envolve diferentes mutações para seu surgimento. Fatores externos, como o ambiente e exposição a substâncias tóxicas e fatores internos, como a combinação de várias variantes genéticas, em conjunto manifestam a doença.
Atualmente muitas pesquisas sobre os genes envolvidos na ocorrência desse espectro vêm sendo realizadas, o que tem revelado uma grande variedade de manifestações e confirmado que quando se trata de um distúrbio de tamanha complexidade, a generalização de soluções é inviável e cada caso deve ser individualizado.
Qual é a relação da Síndrome do X-frágil com o autismo?
A Síndrome do X-Frágil é uma doença de herança ligada ao X que ocorre pelo excesso de repetições de 3 nucleotídeos (CGG) que formam o DNA. Todos nós carregamos repetições desses nucleotídeos no gene FMR1 que está localizado no cromossomo X.
Entretanto, existem faixas estabelecidas para determinar em que nível o excesso de repetições pode afetar a descendência, pois nem todas situações onde existe uma alteração no número de trinucleotídeos, há o risco de filhos afetados, porém dentro da zona de risco, a probabilidade de transmissão aos meninos é de 50%.
Por ser ligada ao cromossomo X, esta síndrome afeta principalmente os descendentes do sexo masculino. Isso ocorre porque as mulheres possuem dois cromossomos X, portanto existe uma compensação. Já os homens, que possuem um único cromossomo X herdado da mãe e Y herdado do pai, estão em risco de um acometimento grave.
O autismo é considerado uma das consequências da Síndrome do X-frágil nos meninos, enquanto as mulheres portadoras da mutação genética são completamente normais, salvo que pode existir falência prematura da função ovariana, portanto, uma dificuldade de engravidar ou até mesmo a infertilidade.
Como é feita a prevenção da Síndrome do X Frágil?
A prevenção da transmissão da síndrome do X frágil pode ser realizada a partir de um tratamento de FIV com o PGT-M, que é a análise de células do embrião para diagnóstico de uma doença monogênica que identifica os embriões saudáveis antes da gravidez.
Porém, é comum que as mulheres portadoras não tenham conhecimento da alteração genética que carregam pela ausência de sintomas. Em outras ocasiões, a presença de algum parente ou filho afetado na família leva as portadoras a realizarem um aconselhamento genético em busca de uma avaliação de risco.
Para avaliar a necessidade de realizar um tratamento com o uso do PGT-M que permita o nascimento de um bebê livre da síndrome do X-Frágil, a futura mãe deve fazer uma pesquisa molecular do gene FMR1 por PCR indicada pelo médico de sua confiança.
Larissa Antunes é geneticista