A população judaica brasileira é estimada em 107.000 indivíduos (IBGE 2010). A união desse grupo étnico mantém ativas as tradições ao longo de séculos, porém também perpetua a hereditariedade de certas mutações que podem provocar doenças genéticas de herança autossômica recessiva, como por exemplo, fibrose cística, atrofia muscular espinhal, entre outras.
As doenças autossômicas recessivas podem ocorrer em qualquer família, porém, o risco é mais elevado em populações com menos miscigenações, pois estes fatores aumentam estatisticamente a probabilidade de os futuros pais terem alterações genéticas em comum. Por esta razão, existe uma recomendação especial de aconselhamento genético para o planejamento familiar de judeus com o objetivo de reduzir o risco de descendentes afetados por doenças muitas vezes letais.
Para uma pessoa ter uma doença recessiva é preciso herdar duas cópias alteradas do mesmo gene (uma cópia do pai e uma cópia da mãe). Se uma pessoa herdar uma cópia alterada e uma normal, então, ela será apenas portadora da mutação em questão mas não desenvolverá a determinada doença. Veja o exemplo abaixo:
A população judaica possui diferentes grupos regionais. Como consequência, o risco genético de doenças hereditárias pode variar de acordo com sua origem. As principais populações são:
- Judeus Asquenazes
- Judeus Sefarditas
- Judeus Italquitas ou Italianos
- Judeus da Criméia ou Crimchacs
- Judeus Mizrahi ou Orientais
- Judeus Mustarabes
- Judeus Teimanitas
- Judeus Beta-Israel
- Judeus de Coxim
- Judeus Bené-Israel
- Judeus Georgianos
- Judeus Persas
- Judeus do Cáucaso
- Judeus Bocarianos
- Judeus Curdos
- Judeus de Caifeng-Fu
Por exemplo, a frequência da Doença de Tay-Sachs na população de Judeus Asquenazes é de 1 a cada 26,5, enquanto na população geral esta doença genética afeta 1 em cada 146 indivíduos.
Pelo risco mais elevado de certas mutações genéticas presentes no código genético dessas populações, a realização de painéis de portadores, também conhecidos como teste de compatibilidade genética, é recomendada por renomados sociedades médicas internacionais como o ACOG (The American College of Obstetricians and Gynecologists) e ACMG (American College of Medical Genetics).
Segundo o ACOG e ACMG, existem mutações genéticas relacionadas a doenças mais frequentes que precisam ser rastreadas na população de origem judaica para uma avaliação de risco e aconselhamento genético no planejamento familiar antes de iniciar as tentativas de gravidez, como por exemplo, Doença de Tay-Sachs, Fibrose cística, Doença da Canavan, entre outras.
Condições genéticas presentes na população de Judeus Asquenazes avaliadas no painel CGT Plus
O teste de compatibilidade genética (CGT) é um rastreamento genético realizado pela tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS) para pesquisar se uma pessoa é portadora de variantes genéticas de herança recessiva ou ligada ao X específicas que compõem o painel aplicado. Por isso, o teste de compatibilidade genética também é conhecido como painel de portadores, em inglês: Carrier Screening.
A Igenomix proporciona aconselhamento genético para a avaliação de risco de forma personalizada às famílias. Com este recurso é possível identificar qual opção do teste CGT mais adequada para cada caso a partir do conhecimento do histórico da família e particularidades de seu grupo étnico.
Assim mesmo, vale citar algumas das condições avaliadas no painel CGT Plus, que é normalmente o mais indicado para a população judaica asquenaze.
- Anemia de Fanconi, grupo C (FANCC)
- Deficiência de lipoamida desidrogenase (DLD)
- Doença do armazenamento de glicogênio (G6PC)
- Doença de Canavan (ASPA)
- Doença de Gaucher (GBA)
- Doença de Niemann Pick (SMPD1)
- Doença de Tay-Sachs (HEXA)
- Fibrose cística (CFTR)
- Miopatia nemalínica tipo 2 (NEB)
- Mucolipidose tipo 4 (MCOLN1)
- Síndrome de Joubert tipo 2 (TMEM216)
- Síndrome de Usher tipo 1 F (PCDH15)
- Síndrome de Usher tipo 3 A (CLRN1)
- Doença da urina do xarope de bordo (BCKDHB)
- Hiperinsulinemia (ABCC8)
- Síndrome de Bloom (BLM)
Como é realizada a avaliação de risco de doenças hereditárias?
O aconselhamento genético é uma parte fundamental do processo tanto para definir o painel ideal para cada caso, quanto para entender a abrangência e limitações dos testes genéticos a serem aplicados.
Após consulta de aconselhamento genético e/ou prescrição do teste pelo médico de sua confiança, será feita uma coleta de sangue ou saliva de ambos do casal. A partir do sangue ou saliva, é realizada a extração de DNA que será depois analisado pela tecnologia de NGS para a análise de mutações específicas contidas no painel.
Quando uma mutação genética é detectada através do CGT, é preciso saber se ambos membros do casal são portadores de variantes no mesmo gene, pois apenas nessa situação existirá um risco elevado de ter descendentes acometidos pela doença genética ligada à alteração detectada. No laudo de resultados do casal são reportadas as variantes individuais e um relatório combinado informando se existe algum risco para as condições testadas (variantes que coincidem no mesmo gene).
A vantagem da realização do CGT é ter a oportunidade de tomar medidas preventivas com relação a doenças genéticas antes de gerar um bebê.
O que fazer quando o risco de descendentes afetados por doenças genéticas é identificado?
A comprovação de um risco de descendentes afetados não impede o casal de realizar o sonho de ter filhos juntos, mas sim abre a possibilidade de planejar o nascimento de um bebê livre da mutação genética familiar.
Opções de tratativas disponíveis quando um risco é identificado:
- Realizar um tratamento de Fertilização in Vitro (FIV) com Teste Genético Pré-Implantacional para Doenças Monogênicas (PGT-M) para identificar o embrião saudável e assim prevenir que a criança seja afetada.
- Conceber com óvulo ou sêmen de doador em um tratamento de FIV para prevenir a incompatibilidade genética da mutação que causa a doença.
- Optar pela adoção.
Larissa Antunes, Assessora científica Igenomix Brasil.