Quando se fala em câncer de mama hereditário, de imediato se associa à presença de variantes encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, genes supressores tumorais que estão relacionados ao reparo de danos ao DNA, regulação da expressão gênica e controle do ciclo celular. Alterações nesses genes podem ser herdadas de qualquer um dos pais e terem ligação a outros tipos de câncer como o de ovário. Também podem existir casos em que uma mutação apareça pela primeira vez na família, sem a necessidade de ter sido herdada.
Embora as mutações em BRCA1 e BRCA2 sejam as mais prevalentes, principalmente, na síndrome de câncer de mama e ovário hereditários, é preciso colocar um holofote em outros genes que, quando alterados, também aumentam a predisposição para desenvolvimento de câncer de mama.
Recentemente, um editorial publicado na revista científica The New England Journal of Medicine trouxe os dados da revisão de dois estudos. O primeiro incluiu 34 genes e 113 mil mulheres de 25 países e, o segundo, 28 genes e 64 mil mulheres dos Estados Unidos. Variantes nos genes – BRCA1, BRCA2, PALB2, BARD1, RAD51C, RAD51D, ATM e CHEK2 – tiveram uma associação significativa com o risco de câncer de mama em ambos os estudos.
Utilizando informações do Cancer Risk Estimates Related to Susceptibility (CARRIERS), foram encontradas variantes patogênicas de doze diferentes genes em 5,03% das mulheres com câncer de mama e em apenas 1,6% do grupo controle. A razão de risco para as variantes em BRCA1 e BRCA2 foi de 7,62 e 5,23 respectivamente, considerado muito alto, enquanto um risco moderado foi identificado em portadores de variantes em PALB2 (RR 3,83). Variantes patogênicas em BARD1, RAD51C e RAD51D foram associadas a um risco moderadamente maior para tumores triplo negativos, enquanto ATM, CDH1 e CHEK2 foram associadas a tumores com receptor de estrogênio positivo.
Ter conhecimento de possíveis mutações nesses genes é essencial não apenas para a definição das melhores opções de tratamentos, mas também para acompanhar parentes de primeiro e segundo graus de um paciente que já foi diagnosticado.
Teste e aconselhamento genético em oncologia
Os testes genéticos estão cada vez mais avançados e geram dados que apontam a predisposição de uma pessoa desenvolver diversos tipos de câncer. Embora não seja um diagnóstico de câncer, eles dão a oportunidade de um acompanhamento preventivo muito mais eficaz, já que cerca de 10% dos casos de câncer de mama e ovário, por exemplo, são causados por mutações genéticas germinativas (aquelas que já nascem com o indivíduo e que possivelmente foram herdadas do pai ou da mãe).
A recomendação de especialistas é que o painel genético deve ser realizado por um médico em diferentes situações:
- Histórico pessoal de câncer de mama e ou de ovário.
- Câncer de mama, de ovário ou no pâncreas em ao menos dois parentes próximos.
- Vários cânceres de mama primários ou câncer de mama bilateral diagnosticados pela primeira vez antes dos 50 anos de idade.
- Câncer de mama triplo negativo na pré-menopausa diagnosticado em uma idade jovem (com idade igual ou inferior a 45 anos).
- Câncer de mama masculino em um parente próximo.
- Etnias com alta frequência de mutação BRCA, como judeus Asquenaze, devem ser testadas, mesmo na ausência de história familiar.
É importante ressaltar que o teste genético positivo não significa que o paciente esteja com câncer. Na verdade, dependendo do gene, representaria uma maior predisposição para desenvolvê-lo quando comparado com uma pessoa sem variante genética. Portanto, mesmo que o teste genético mostre que a pessoa tenha apresentado alguma mutação, não significa que ela, necessariamente, tenha ou terá a doença. Somente um profissional especializado, como um geneticista, poderá indicar a rotina personalizada de prevenção e exames periódicos. Por enquanto, o acesso a esses testes é restrito à rede privada e planos de saúde.
Dra Cristina Carvalho é Geneticista