Quando se fala em câncer de mama hereditário, que representa cerca de 10% da origem do total de cânceres de mama, de imediato se associa à presença de variantes encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, genes supressores tumorais que estão relacionados ao reparo de danos ao DNA, regulação da expressão gênica e controle do ciclo celular. Alterações nesses genes podem ser herdadas de qualquer um dos pais e terem ligação a outros tipos de câncer como o de ovário. Também podem existir casos em que uma mutação apareça pela primeira vez na família, sem a necessidade de ter sido herdada.
Embora as mutações em BRCA1 e BRCA2 sejam as mais prevalentes, principalmente, na síndrome de câncer de mama e ovário hereditários, é preciso colocar um holofote em outros genes que, quando alterados, também aumentam a predisposição para desenvolvimento de câncer de mama.
Um editorial publicado na revista científica The New England Journal of Medicine trouxe dados da revisão de dois estudos. O primeiro incluiu 34 genes e 113 mil mulheres de 25 países e, o segundo, 28 genes e 64 mil mulheres dos Estados Unidos. Variantes nos genes – BRCA1, BRCA2, PALB2, BARD1, RAD51C, RAD51D, ATM e CHEK2 – tiveram uma associação significativa com o risco de câncer de mama em ambos os estudos.
Utilizando informações do Cancer Risk Estimates Related to Susceptibility (CARRIERS), foram encontradas variantes patogênicas de doze diferentes genes em 5,03% das mulheres com câncer de mama e em apenas 1,6% do grupo controle. A razão de risco para as variantes em BRCA1 e BRCA2 foi de 7,62 e 5,23 respectivamente, considerado muito alto, enquanto um risco moderado foi identificado em portadores de variantes em PALB2 (RR 3,83). Variantes patogênicas em BARD1, RAD51C e RAD51D foram associadas a um risco moderadamente maior para tumores triplo negativos, enquanto ATM, CDH1 e CHEK2 foram associadas a tumores com receptor de estrogênio positivo.
Estudos brasileiros sobre o câncer de mama hereditário
Dois estudos realizados no Brasil publicados em 2022 corroboram com a importância de ir além do BRCA1 e BRCA2. Um deles, publicado na revista científica Breast Cancer Research and Treatment foi especialmente importante por ter analisado mulheres que se autodeclararam afrodescendentes no Nordeste do Brasil, identificou variantes patogênicas (ligadas ao risco de manifestação do câncer) nos genes BRCA1, BRCA2, PALB2 e TP53. Acesse mais informações sobre esse estudo no resumo que publicamos na ocasião da publicação.
O segundo estudo brasileiro que destacamos foi publicado na revista Scientific Reports. Nele foi apresentado que no Brasil as variantes em genes ligados ao aumento de risco de câncer de origem hereditária mais comumente encontrados foram: BRCA1 (27,4%), BRCA2 (20,3%), TP53 (10,5%), MUTYH monoalélico (9,9%), ATM (8,8%), CHEK2 (6,2%) e PALB2 (5,1%), sendo o TP53, terceiro gene mais mutado, uma variante brasileira responsável pela Síndrome de Li-Fraumeni.
Ter conhecimento de possíveis mutações nesses genes é essencial não apenas para a definição das melhores opções de tratamentos, mas também para acompanhar parentes de primeiro e segundo graus de um paciente que já foi diagnosticado.
Teste e aconselhamento genético em oncologia
Os testes genéticos estão cada vez mais avançados e geram dados que apontam a predisposição de uma pessoa desenvolver diversos tipos de câncer. Embora não seja um diagnóstico de câncer, eles dão a oportunidade de um acompanhamento preventivo muito mais eficaz, já que cerca de 10% dos casos de câncer de mama e ovário, por exemplo, são causados por mutações genéticas germinativas (aquelas que já nascem com o indivíduo e que possivelmente foram herdadas do pai ou da mãe).
A recomendação de especialistas é que o painel genético deve ser realizado por um médico em diferentes situações:
- Histórico pessoal de câncer de mama e ou de ovário.
- Câncer de mama, de ovário ou no pâncreas em ao menos dois parentes próximos.
- Vários cânceres de mama primários ou câncer de mama bilateral diagnosticados pela primeira vez antes dos 50 anos de idade.
- Câncer de mama triplo negativo na pré-menopausa diagnosticado em uma idade jovem (com idade igual ou inferior a 45 anos).
- Câncer de mama masculino em um parente próximo.
- Etnias com alta frequência de mutação BRCA, como judeus Asquenaze, devem ser testadas, mesmo na ausência de história familiar.
É importante ressaltar que o teste genético positivo não significa que o paciente esteja com câncer. Na verdade, dependendo do gene, representaria uma maior predisposição para desenvolvê-lo quando comparado com uma pessoa sem variante genética. Portanto, mesmo que o teste genético mostre que a pessoa tenha apresentado alguma mutação, não significa que ela, necessariamente, tenha ou terá a doença. Somente um profissional especializado, como um geneticista, poderá indicar a rotina personalizada de prevenção e exames periódicos. Por enquanto, o acesso a esses testes é restrito à rede privada e planos de saúde.
Susana Joya, Assessora científica Igenomix Brasil.