A Fundação Igenomix assumiu desde o início da pandemia o compromisso de reunir as referências no setor de medicina reprodutiva para compreender e avançar no conhecimento sobre o impacto da COVID-19 na fertilidade e gravidez.
Após criar uma série de eventos que ocorreram principalmente durante os meses de abril e maio (disponíveis na plataforma IVF-edu), em setembro, chegou o momento de compartilhar as últimas atualizações através do Primeiro Simpósio da Fundação Igenomix, além de trazer as novidades em genética reprodutiva.
Confira os principais momentos do encontro científico virtual que aconteceu dia 3 de setembro de 2020.
A agenda
Dividido em dois blocos. O primeiro com foco na experiência de reinício dos ciclos de tratamentos de reprodução assistida e o segundo, nas novidades em genética reprodutiva.
Para encerrar o encontro, Professor Juan Carlos Izpisúa compartilhou atualizações sobre o desenvolvimento de embriões sintéticos e as perspectivas de aplicações dessa inovação no futuro, fechando o Simpósio com chave de ouro.
1º Bloco – Reinício dos tratamentos de reprodução assistida
O primeiro bloco do evento, mediado Dra Juliana Cuzzi, trouxe Dr Roussel Folk para apresentar a perspectiva da clínica de reprodução assistida, Dra Laura Rienzi para falar da experiência do laboratório de Fertilização in Vitro e para fechar o bloco, Dr Denny Sakkas aportou a perspectiva do laboratório de andrologia.
Como a ciência ajuda no combate ao medo?
Nada melhor que informação contrastada por pesquisas para combater o medo. Com esse foco, Dr Russell A Foulk, além de tomar todas as medidas preventivas frente aos riscos frente as incertezas de um novo vírus, levou a cabo um estudo sobre a prevalência da infecção por covid-19 específica de sua região.
A pandemia do COVID-19 gerou medo a um nível que há tempos a humanidade não vivia. Diante da situação, somos obrigados a ser disruptivos para seguir nossa vida de uma nova forma. – Dr Russell A Foulk
Dr Russel comentou em sua apresentação que atualmente 90% das consultas das clínicas onde ele atua são realizadas por telemedicina. O monitoramento presencial das pacientes foi reduzido ao que é considerado essencial para o tratamento e nas consultas presenciais, muitos pacientes permanecem esperando pelo seu atendimento dentro dos próprios carros para evitar estar em um ambiente com outras pessoas.
Um dos pontos importantes na retomada dos tratamentos para Dr Russell é entender o cenário local onde o paciente e clínica estão localizados. Através da testagem foi possível obter informações para o estudo sobre a incidência de infecção por covid-19 de sua região, o que resultou na constatação de uma baixa imunização da população. Como consequência, foi evidente a necessidade de manter as iniciativas de precaução contínua.
Esta iniciativa permitiu aumentar a confiança para os pacientes da Utah Fertility Center ao saberem que o risco de sua região não era alto e que a clínica estava monitorando esta informação, além de adotar a metodologia conhecida como COVIDfree, que longe de significar uma garantia de estar livre do vírus é um programa desenvolvido para manter o acompanhamento constante, tomar medidas de prevenção e isolamento baseadas no resultado de uma testagem contínua de equipe clínica e pacientes.
Perspectiva do laboratório de FIV frente à COVID-19
Dra Laura Rienzi em sua aula contou as dificuldades enfrentadas na Itália, o primeiro país ocidental altamente afetado pela pandemia. Algo que impactou não apenas no ritmo dos procedimentos, mas o ânimo de toda população.
Para enfrentar e superar os desafios impostos pela insegurança e incerteza, imediatamente foi adotado no laboratório de FIV Genera uma metodologia para analisar e minimizar riscos entre Paciente-Staff, Staff-Staff, Staff-celulas, Células-Células. A equipe identificou cada ameaça potencial de infecção e traçou uma série de medidas preventivas.
Para enfrentar a dificuldade de acesso aos testes, que continuam restritos no país, foi adotado o processo de triagem baseado em sintomas.
Uma vez tomadas todas as medidas de proteção e adotada a telemedicina sempre que possível, conseguimos inclusive aumentar o volume de ciclos em relação ao mesmo período do ano anterior. Dra Laura Rienzi
Manter uma proteção entre pessoas e amostra foi um processo fácil no laboratório, onde medidas de contaminação são parte da rotina, inclusive considerando higienização tão constante quanto a cada hora, além do tempo de circulação do ar entre pacientes.
Dra Laura, provoca as pessoas a pensarem se essa situação é apenas ruim ou se temos uma perspectiva positiva. Para ela, tecnologia e automação é a parte positiva que foi impulsionada nesse período. E citou vários pontos:
- Tecnologias envolvendo automatização podem ajudar a otimizar a rotina
- Sistema eletrônico de monitoramento do laboratório
- Incubadoras time-lapse permitindo o monitoramento a distância
- Abastecimento automático de nitrogênio líquido
- Armazenamento automatizado de amostras
- Monitoramento de equipamentos e alarme remotos
Laboratório de andrologia, atualizações sobre covid-19 e fertilidade masculina
Falar de andrologia e COVID-19 é muito importante, principalmente porque algumas publicações sinalizaram um risco maior de infecção nos homens e constataram um impacto da infecção na fertilidade masculina.
Diante da incerteza sobre quanto tempo os efeitos do novo coronavírus afetam a fertilidade masculina, Dr Denny Sakkas adotou o procedimento de estabelecer um período de 3 meses para restabelecer os parâmetros normais da produção de espermatozoides após o paciente superar a doença.
Já sabemos sobre o impacto da infecção por COVID-19 na fertilidade masculina, no entanto, ainda precisamos de tempo para saber quanto dura esse efeito. Felizmente as pesquisas até o momento sugerem que os efeitos não são permanentes. Entre as atualizações científicas que proporcionam algo de alívio em relação aos efeitos do vírus, Dr Denny citou a publicação científica que indicou que o risco de uma infecção por covid afetar o sistema reprodutivo é improvável:
Como conclusão, para manter o laboratório de andrologia organizado para minimizar riscos, Dr Denny destacou:
- Minimize o número de pacientes e amostras no laboratório utilizando práticas remotas
- Evite procedimento de lavagens agregando etapas extras de seleção se os pacientes estão em risco de estarem infectados
2º Bloco – O que há de novo em Genética Reprodutiva?
Apresentar as principais novidades em genética reprodutiva foi o objetivo do segundo bloco do GIF Symposium. Em um ano onde todos os congressos presenciais foram cancelados as novidades são muitas, já que produção científica e desenvolvimentos da genética não pararam!
Dr Nasser Al Asmar moderou a segunda parte do Simpósio, onde Dra Carmen Rubio, Dra Inmaculada Moreno e Dr Carlos Simón apresentaram atualizações na área da análise embrionária, microbioma e receptividade endometrial.
Análise Cromossômica do Embrião no Meio de Cultura – EMBRACE
Após vários anos de pesquisa e 3 publicações científicas seguindo todos os passos necessários para comprovar a aplicabilidade e relevância clínica de um novo teste genético, a Igenomix lançou seu niPGT-A; o EMBRACE. A única análise cromossômica no meio de cultura realmente não invasiva, pois a obtenção da amostra não requer nenhuma intervenção no embrião, corte, vitrificação ou punção.
Dra Carmen Rubio apresentou as diferentes fases de desenvolvimento do estudo científico que deu origem ao novo teste genético, todas elas publicadas em revistas científicas de alta relevância:
Se você ainda não conhece o EMBRACE, vale a pena ler a notícia detalhada sobre a última pesquisa, que envolveu várias clínicas do mundo (inclusive do Brasil) com 1301 embriões onde a concordância com o PGT-A (inclusive com a massa celular interna) foi analisada.
Como conclusão sobre o novo teste genético disponível, Dra Carmen Rubio destacou:
- O meio de cultura do embrião pode ser amplificado e analisado sendo representativo em relação ao conteúdo cromossômico do embrião.
- A concordância entre trofectoderma e massa celular interna pode chegar até 85% em meios de cultura coletados em dia 6 de desenvolvimento embrionário.
- O protocolo desenvolvido demonstrou ser robusto em diferentes condições de cultivo e incubadoras e pode ser aplicado sem a necessidade de aquisição de novos equipamentos no laboratório de FIV.
- A nova estratégia de análise previne a biópsia embrionária e o descarte de embriões.
Microbioma e Viroma Endometrial
Impressiona saber a quantidade de bactérias que habitam nosso organismo. Elas estão presentes na mesma quantidade de células que possuímos e se relacionam com nossa saúde e doença.
Para falar sobre o microbioma e sua relação com a fertilidade e sucesso reprodutivo, Dra Inmaculada Moreno apresentou as pesquisas que foram a base para o lançamento dos testes EMMA e ALICE e as novas informações acumuladas com o avanço das investigações, além da inclusão do estudo do viroma endometrial, área de estudo que ainda não existia na Igenomix.
As razões para colocar o microbioma no centro da nossa atenção na análise da fertilidade feminina são amplamente conhecidas:
- Varios estudos comprovam que o desequilíbrio do microbioma vaginal associado a baixa população de lactobacilos está ligado e piores resultados reprodutivos
- Algumas bactérias patogênicas estão diretamente ligadas à infertilidade, como Clamidya e Mycoplasma
- De 20-30% das mulheres apresentam infecções endometriais assintomáticas provocadas por bactérias
- Cerca de 40% das pacientes em tratamento de reprodução assistida apresentam uma microbiota vaginal alterada
Conhecendo o impacto do microbioma vaginal, entender a existência e relação do microbioma endometrial com os resultados reprodutivos das pacientes foi uma necessidade que estudo desenvolvido pela Igenomix supriu. Tão importante que quando publicado, foi considerado de grande impacto pela revista científica AJOG:
Para comprovar a influência na fertilidade das bactérias presentes no endométrio, Dra Inmaculada liderou um estudo prospectivo que envolveu 452 paciente e clínicas em 8 países diferentes. O resultado revelou que alterações no microbioma endometrial estão relacionadas com repetidas falhas de implantação nos tratamentos de FIV.
Outro dado muito interessante da apresentação da Dra Inmaculada, foi o registro do microbioma endometrial no início de uma gestação. A coleta foi realizada sem o conhecimento de que a paciente já estava gestante, o que nos proporcionou por acidente uma informação inédita publicada na revista AJOG. Para conhecer em detalhes a publicação, acesse a notícia.
A respeito do viroma e as bactérias, existe uma relação entre ambos na dinâmica do microbioma, um tema que começamos a investigar profundamente e que esperamos que nos ajude a conhecer mais para controlar seus efeitos na fertilidade humana.
Abrindo a caixa preta da receptividade endometrial
Para fechar o segundo bloco do simpósio, Professor Carlos Simón além de apresentar os resultados do mais recente estudo randomizado prospectivo RCT sobre a efetividade do teste ERA em pacientes em primeiro ciclo de tratamento de Fertilização in vitro, nos provocou a refletir sobre a importância de apresentar às pacientes informação completa sobre suas chances de bebê nascido e as ferramentas que estão disponíveis para que os tratamentos de Fertilização in Vitro sejam mais efetivos.
Dr Carlos lembrou que a FIV continua sendo um tratamento muito ineficiente, onde a cada ciclo 70%-75% das pacientes não alcança seu objetivo, que é o nascimento de um bebê. Por isso, é importante utilizar as ferramentas existentes da genética com vistas a proporcionar tratamentos mais efetivos e prevenir complicações para a paciente, como perdas gestacionais, além das consequências emocionais e econômicas de repetir várias vezes a FIV.
Sabemos que a transferência de um embrião euploide após a análise cromossômica do embrião (PGT-A) aporta um aumento de 15% das chances de nascimento de um bebê saudável em relação a uma FIV simples.
Por outro lado, a indicação da avaliação da receptividade endometrial estava limitada a falhas de implantações anteriores, o que muitas vezes gerava a perda de embriões viáveis devido a um endométrio não receptivo. Pensando em comprovar o benefício de realizar o teste ERA antes da FIV, um estudo randomizado envolvendo clínicas de reprodução assistida de vários países, incluindo o Brasil, demonstrou a confiança sobre algo que anos de realização do teste ERA vinha sinalizando: considerar o fator endometrial antes que as falhas de implantação ocorram eleva as chances de nascimento em tratamentos de FIV, além de evitar a perda de um embrião euploide que poderia ser a última oportunidade da paciente.
Para conhecer os detalhes do estudo científico publicado com 458 paciente de diferentes clínicas ao redor do mundo acesse o artigo com informação completa.
Criação de Embriões Sintéticos para entender o Desenvolvimento Embrionário
Já faz anos que a ciência desenvolveu a capacidade de gerar mini órgãos (organoides) para a investigação científica. Seguindo o mesmo principio de entender o organismo, as tentativas de recriar o desenvolvimento de mamíferos in vitro poderia ser a resposta para identificar os mecanismos que ocultam a razão pela qual embriões saudáveis em endométrios também saudáveis e receptivos não resultam no nascimento de um bebê ou ainda, conseguir a cura de doenças genéticas.
Professor Juan Carlos Ipizúa e sua equipe levam a cabo o projeto de replicar in vitro o desenvolvimento e implantação do embrião e dessa forma identificar os fatores de sucesso ou fracasso da geração da vida. Um propósito certamente revolucionário que trará muitas respostas e diversos benefícios na evolução dos tratamentos de reprodução assistida e saúde.
Apesar da pesquisa ainda ter um longo caminho para tornar-se realidade, a equipe do Salk Institute já alcançou avanços consideráveis com a tecnologia desenvolvida por Hongkui Deng de EPS Cells.
Dr Juan Carlos apresentou imagens dos resultados até o momento e as muitas possibilidades de aplicações futuras desse projeto, algo impressionante que convidamos você a ver pessoalmente acessando a aula, que já está disponível no portal do Primeiro Simpósio Global da Fundação Igenomix.
Dra Marcia Riboldi – Geneticista e diretora da Igenomix Brasil