O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa, onde características comuns como comportamentos estereotipados e repetitivos, isolamento social e interesses restritos podem estar presentes em uma ampla variabilidade de quadros clínicos1.
Devido à diversidade de sintomas e gravidade desse espectro, o TEA às vezes é difícil de diagnosticar. Uma parte dos casos de TEA são sindrômicos, ou seja, ocorrem em conjunto com outras manifestações clínicas. Geralmente estes casos estão associados a alterações cromossômicas ou mutações em um único gene, como por exemplo, síndrome do X-frágil. Já o TEA não sindrômico não apresenta sintomas adicionais e o padrão de herança é complexo2, ou seja, é composto de fatores genéticos e ambientais.
O componente genético para o especto autista sempre está presente, no entanto, a prevenção para novos nascidos é possível apenas quando este fator genético é o único responsável pelo disturbio e pode ser detectado por um teste de diagnóstico.
Para o diagnóstico genético do embrião antes da gravidez, o Teste Genético Pré-Implantacional (PGT) pode ser realizado em conjunto com a Fertilização In Vitro (FIV) para evitar a transmissão de uma condição genética específica para a próxima geração. Existem diferentes testes genéticos pré-implantacionais, todos realizados a partir da retirada de algumas células do embrião em seu quinto dia de desenvolvimento:
- PGT-A para Aneuploidias, que analisa os cromossomos de um embrião
- PGT-SR para Rearranjos Estruturais (alteração no cariótipo de um ou ambos os progenitores), que também analisa cromossomos, porém com uma ampliação específica
- PGT‑M para Doenças Monogênicas, que analisa genes únicos
Atualmente o PGT é possível apenas quando a causa genética específica seja conhecida e o casal tenha risco de recorrência nos futuros filhos. Este pode ser o caso da síndrome do X-frágil que devido à expansão de trinucleotídeos CGG no gene FMR1, tem padrão de herança ligado ao X e é a causa genética mais comum de autismo4, nesta situação o PGT-M seria o teste indicado.
Passos para a prevenção do autismo de origem genética específica
O primeiro passo antes da realização de um PGT-M é saber se a alteração genética presente na família já é conhecida, ou seja, se já possui o laudo genético. O aconselhamento genético é também recomendado para auxiliar as famílias no entendimento da condição e possibilidades investigativas.
Com o laudo de diagnóstico em mãos, cada caso é analisado individualmente para a confecção de uma sonda personalizada para a família. Quando a sonda está pronta, o casal dá início ao processo de FIV para gerar embriões, que serão cultivados em laboratório, biopsiados, congelados e armazenados em nitrogênio líquido na clínica de reprodução assistida, enquanto as células biopsiadas são enviadas ao laboratório de genética Igenomix para sua análise.
Para aumentar as chances de gravidez, nos embriões livres da alteração genética ligada ao TEA, é realizada a análise cromossômica de embriões PGT-A, que reduz o principal risco de falhas de implantação e aborto de primeiro trimestre, além de prevenir outras condições cromossômicas, como a trissomia 21 (síndrome de down).
Larissa Antunes, Assessora científica Igenomix Brasil.
Referências:
- American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5), 5th edn Washington, DC: American Psychiatric Association Publishing, 2013.
- Sztainberg, Yehezkel, and Huda Y Zoghbi. “Lessons learned from studying syndromic autism spectrum disorders.” Nature neuroscience vol. 19,11 (2016): 1408-1417. doi:10.1038/nn.4420.
- Zegers-Hochschild, Fernando et al. “The International Glossary on Infertility and Fertility Care, 2017.” Human reproduction (Oxford, England) vol. 32,9 (2017): 1786-1801. doi:10.1093/humrep/dex234.
- Razak, Khaleel A et al. “Developmental studies in fragile X syndrome.” Journal of neurodevelopmental disorders vol. 12,1 13. 2 May. 2020, doi:10.1186/s11689-020-09310-9